quarta-feira, agosto 29

E morre lentamente e bem decrepitamente quem não existe. E fazer o que. Se não há saída mesmo. Se as paredes estão erguidas e os cantos já não são ouvidos mais? Chorar não vai fazer amenizar a dor, talvez traga mais rancor para um peito já catolaico. Mas o amanhã vai nascer impunemente e nem vai querer saber se a noite foi escura e fria. No fundo é tudo assim mesmo brigamos porque simplesmente o fazemos e o nada mais é distante tanto quando a respiração que não vejo mais por conta dos cloridratos.

Hoje me acompanham duas barrinhas de cereais. Ah! Se meus problemas de vida fossem apenas os cereais. Mas não, os meus são apenas os rios que correm entre estas palavras de desvãos enluarados.

terça-feira, agosto 28

Edgar vai ter um filho.
Como pode? Não o conheço e estou tocado por ele e pela criança que virá lá da fronteira, como um Peri. É o mundo ficando mais leve, é o machado lapidando a dureza das gentes.

Que venha seu rebento, Edgar.

Que venha dissidente como o pai.

domingo, agosto 26

no vale belo, esquecido
se vai um flautista distraído,
o flautista também é surdo
e vaga sem se dar conta
ue assopra um simples canudo.
sem furo, música ou ponta...

sexta-feira, agosto 17

Olhe 
Não venha me mostrar o que você não vê 
Não venha me provar o que você não crê 
Não tente se enganar 
Pense 
Ninguém pode se dar o que só você tem 
Ninguém vai te dizer pra onde vai ou de onde vem 
A estrada é pra caminhar 
Não perca o resto do tempo que ainda te resta 
Não perca tempo pensando que a vida não presta 
Certas canções duram pouco, outras são eternas 
Por que carros e aviões, se tens sonhos e pernas 
Lembre 
Que sua consciência é o seu grande farol 
Há meses que fazem chuva, semanas que fazem sol 
E dias em que tanto faz 
Faça 
Você faz seu enredo, você é seu Jesus 
Feche os olhos do medo e abra o templo da luz 
E tente um minuto de paz 

Sonhos e Pernas de Vander Lee

segunda-feira, agosto 6

como todas as coisas da vida e como Álvaro de Campos, não sou nada, absolutamente nada, nem existo, nem minto em mim a coexistência das sensações do mundo.

mexendo os ombros, balançando a cabeça

o dia amanheceu especialmente lindo naquele dia. os pássaros cantavam. o som das folhas secas rolando pelo chão de cimento envolvidas pelo vento de agosto invadia o quarto e completavam a melodia que joão assoviava enquanto arrumava os materiais escolares na capanga velha e surrada. foi quando a mãe entrou no quarto e, de olhos arregalados, deu bom dia ao menino e perguntou se estava tudo bem. sim. respondeu ele, com um sorriso – o que era comum – nos lábios. sapatos aos pés, cabelos molhados e espichados e uniforme bem assentado no corpo franzino, jota, como era chamado pelos amigos do futebol, se prostrou frente a porta do carro, parecia ansioso para ver os colegas da escola. e está não é só minha, a mãe também nutri está dúvida. aliás, respostas é o que ela menos tem para dar nesta manhã sobre o comportamento do garoto. como explicar e relacionar a destreza para levantar da cama e se arrumar prontamente, num segundo, para ir à escola, tratando de tomar banho, de escovar os dentes, de pentear os cabelos, de se vestir, de arrumar os materiais escolares e de tomar café, tudo com uma tranqüilidade oriental, ao joão?, não. isso não era o forte daquele garoto. talvez ele tenha chegado a madureza de seus 11 anos, avaliou o pai, com ar grave no rosto. bem, fato é que o garoto esta lá, esperando na porta do carro, mexendo os ombros, chutando o vento e balançando a cabeça. se maduro ou não, ele estava pronto mais um dia de aula, o que, cá pra nós, era um milagre, pois o moleque não era lá muito fã dos bancos escolares, vai ver estava se enrabichando pro lado de alguma garotinha na sala.

ao ver o beijo dos pais se adiantou para dentro do carro gritando um “tchau mãe” e se abancou na poltrona de trás abrindo a janela para sentir a brisa que batia em seu rosto e jogava seus cabelos para trás. parecia particularmente livre e feliz sentindo o vento e olhando as casas que compunham a paisagem móvel do caminho até à escola. as casas eram as mesmas, os postes eram os mesmos, os jardins eram os mesmos, até os cachorros que escapavam das bolinhas dos cuspis que voavam do carro eram os mesmos, mas a pintura em seus olhos era diferente era outra naquela manhã. o pai tentava contatos em vão, jota estava em outro mundo e conversava consigo mesmo sobre coisas que não escuto. a única coisa que consigo discernir são os movimentos da cabeça rumo a um e outro ombro. o que será que esse menino ouve? perguntava o pai a si e não encontrava resposta. enquanto isso o garoto continuava em seu mundo, seguindo seu caminho físico de toda manhã e ouvindo frases, creio, de incentivo e, talvez, até aplausos, vai saber?.

fila dupla, corre-corre e ele mal se despede do pai já corre para dentro da sala de aula. está só no local, ainda é cedo. aos poucos as cadeiras vão tomando vida e o silêncio é silenciado pelo burburinho que aumenta a cada instante até a chegada da professora.

Quando história quiser sair mais um pouquinho eu deixo,

sempre deixarei. Ela é que se esconde num sei onde.