segunda-feira, dezembro 21

de quando em vez a vida maltrata o corpo
e tiramos versos torpes de notícias de jornais.



Anbela na voz de Renato Braz.

sexta-feira, dezembro 11

Elizabeth

rainha do mundo lírico dos que amam como eu.
dona do mar de poesias,
copa repleta das verdes folhas do viver.

|todas carinhosamente cercadas pela alva tez.
a fina flor de sal desse doce mar que me acaricia.|

sábado, dezembro 5

aladas

Esqueça a crítica ferrenha aos Estados Unidos. Apague, por alguns minutos, da sua mente o movimento Dogma e sua "naturalidade". Lars Von Trier deixou tudo isso de lado para fazer seu mais novo filme, Anticristo, um terror psicológico, marcado por todos os pesadelos que teve durante os dois anos que passou em depressão.

Apesar de o diretor deixar de lado suas abordagens políticas, a ironia é a mesma de sempre: a mais cruel e refinada, com direito a cenas de mutilação genital, sexo explícito e questão “Deus realmente existe?”. E é justamente munido desse sarcasmo, que von Trier apresentou o filme nas coletivas em Cannes, auto-intitulado "o melhor diretor do mundo".

Diante das insistências para que explicasse o filme, foi vago nas respostas e soltou farpas como "eu não me preocupo com a audiência quando faço um filme" ou "foi Deus que me fez escolher essa história e realizar esse filme agora", além de elegê-lo o mais importante da sua carreira. Não é de se espantar, afinal Anticristo nasceu de todos os demônios que ele enfrentou nos anos de seu terror psicológico. O caos reina na história vivida pelos excelentes Charlotte Gainsbourg, premiada com a Palma de Ouro, e William Dafoe.

Para termos a dimensão do significado do filme na vida do diretor, Charlotte disse em entrevista à Folha de S.Paulo que as maiores dificuldades das filmagens foram os constantes ataques de pânico que ele sofria em algumas cenas. “Sabíamos que podia deixar o set a qualquer momento”, revelou.

A natureza demoníaca e o animalesco

Como é prática constante, o cineasta dinamarquês dividiu seu filme em capítulos – “Luto", "Dor (Caos Reina)", "Desespero (Genocídio)" e "Os Três Mendigos", além de trazer um prólogo e um epílogo – para contar a história de um casal (os nomes não são citados em nenhum momento) que se refugia numa floresta isolada, ironicamente chamada de Jardim do Éden, após a morte de seu filho.

Ela, uma escritora, totalmente entregue à dor da perda, ele, um terapeuta, que usa a psicologia cognitiva (abordada da maneira mais irônica a esse tipo de tratamento) para ajudar a esposa. Já envoltos na vastidão da natureza, o vegetal, o animal e, principalmente, os instintos humanos se misturam numa saga bíblica que mexe com a moral e os valores dos espectadores. Von Trier tira de Charlotte uma mulher em seu estado mais frágil e faz um retrato visceral, que de tão animalesco soa pornográfico.

A premissa é "e se a natureza fosse criada pelo anticristo?". Vale lembrar, aqui, que Lars von Trier é filho de pais ateus e tem, desde os 12 anos de idade, um exemplar de O Anticristo, manifesto anticristianismo de Friedrich Nietzsche, em sua cabeceira. Mesmo com esse histórico, o cineasta, implicante como é, se converteu ao Cristianismo em certo momento da vida, porém hoje perdeu novamente a fé na religião – embora sua nova obra seja toda permeada por símbolos e citações místicas.


A plástica do filme

Diferente da proposta de seus outros filmes, com câmeras no ombro e imagem o mais natural possível (herança do movimento Dogma), aqui, em Anticristo, ele investe na estética. A bela fotografia é assinada por Antony Dod Mantle (o mesmo de Quem Quer Ser um Milionário) e, desde a poética abertura, rodada em preto e branco e em câmera lenta, já impressiona. Nela, um casal faz sexo, de forma idílica e intensa, no momento em que seu filho pequeno sai do berço, se aproxima da janela e dali cai.

A música de fundo, neste prólogo, compõe a ironia: Lascia Ch’io Pianga, de Händel, com interpretação da soprano norueguesa Tuva Semmingsen, fecha uma das cenas mais belas dos últimos tempos.

Ironia ou homenagem?

Encerrado o filme, uma tela negra. Pouco mais de dois segundos, o espectador se depara com a frase: "Dedicado a Andrei Tarkovski (1932 a 1986)”. Depois do bombardeio de metáforas antisemitas, a impressão que dá é de um sarcasmo despudorado, já que o famoso cineasta russo tem na sua cinematografia um forte compromisso com o sagrado.

No entanto, Von Trier justificou e esclareceu essa dúvida na época do Festival de Cannes. "Para mim ele era uma espécie de deus. Me sinto ligado a ele, assim como a Bergman", comentou. “Meu trabalho e o dele têm uma relação religiosa. A primeira vez que assisti a um filme do Tarkovski, The Mirror (O Espelho), entrei em êxtase. Dedicaria todos os meus filmes a ele”, revelou.

Se entregue ao pesadelo

Lars Von Trier sabia o que fazia quando não quis explicar seu filme (e na verdade, que obra deve ser explicada?). E assim deve fazer o seu espectador. Anticristo não é um filme para ser explicado. Deve ser enfrentado (com muita coragem), sentido. Diante de todos aqueles símbolos e referências, ele só pede que você mergulhe nos seus pesadelos mais tenebrosos e busque algum significado, o seu significado.

não, a tristeza é, como na vida, mais tédio que pranto. tudo o que lá não está é excesso.

quinta-feira, novembro 19

questões ao dr. gato de alice I

dr. gato de alice: alô?
você: olá! dr. gato? como vai?
dr. gato de alice: hum...
você: estou com um sério problema, senhor gato.
dr. gato de alice: hum...
você: eu amo ler e reler o livro de um autor. só que acho esse escritor um picareta, um canalha ingrato que cuspiu no prato em que comeu. um imbecil que não soube ser grato ao ombro amigo. mas, não adianta, dr. gato, sempre quando estou em frente à minha estante... passo o dedo em todos os livros... e sempre volto ao mesmo conto, o desse filho de uma puta.
dr. gato de alice: hum...
você: dr., o que é que está acontecendo comigo dr.?
dr. gato de alice: bem. você só está com um certo sentimento de autopiedade, coisa pouca. dê uma guglada... lá explica tudo. num esquenta não, faça o velho e bom exercício: compre um vestidinho novo, uma sandalhinha bacana, um tijolinho de ganja e combine com os seus amiguinhos "descolados" uma viagem a milho verde, o último point do momento... dos alternativos. como sempre... faça isso uma vez por mês (duas, caso o papai deposite a grana até o dia 20). sempre funciona.
você: dr., o senhor é o máximo!
dr. gato de alice: ok. muito obrigado por sua participação, como você já sabe, a nossa conversa está sendo gravada, anote, por favor, o número de seu protocolo.

sexta-feira, novembro 13

o problema era o estranho hábito de colecionar joaninhas.



Enquanto você na arquibancada eu na geral
Enquanto eu além de tudo você afinal
Enquanto eu rondó você madrigal...
Enquanto eu paro e penso você avança o sinal
Enquanto você carta marcada eu canastra real
Enquanto eu lugar-comum você especial
Enquanto eu na cozinha você no quintal...

Você dois pra lá, e eu dois pra cá
É a dança da nossa paixão
Dois pra lá, e eu dois pra cá
É a dança da nossa paixão

Enquanto você kamikase eu general
Enquanto eu paquetá você cabo canaveral
Enquanto eu média luz você carnaval...
Enquanto você no olimpo ai de mim mortal
Enquanto você brisa eu vendaval
Enquanto você Roberto eu Hermeto Pascoal

Você dois pra lá, e eu dois pra cá
É a dança da nossa paixão
Dois pra lá, e eu dois pra cá
É a dança da nossa paixão

Enquanto você monumento eu pedra de sal
Enquanto você na folia eu no funeral
Enquanto eu matriz você filial...
Enquanto você Branca de Neve eu Lobo Mau
Enquanto eu papai-e-mamãe você sexo oral
Enquanto eu na canção você no parque industrial

Você dois pra lá, e eu dois pra cá
É a dança da nossa paixão
Dois pra lá, e eu dois pra cá
É a dança da nossa paixão

sexta-feira, novembro 6

oito horas e tal da manhã.
acordado desde às três. sete cigarros.
os algarismos me mostram que a manhã não está nada bem.

domingo, novembro 1

e, na verdade, estar aqui e ser assim, afeito ao que é amargo e às promessas possíveis e ainda assim intangíveis de amor, é simplesmente a vontade de se estar à altura desse momento único, recortado no tempo, que chamam de vida.
fumo um cigarro e espero esta vontade passar.

quinta-feira, outubro 29

ainda restam em meus lábios vestígios que demonstram a capacidade de sua ternura. é o que resta. esta angústia lenta que alenta o que queima num canto escuro do quarto. tudo já foi.

terça-feira, outubro 27

Tenho lido os 100 Sonetos de Amor, de Neruda. Leitura muito agradável e muito tenho me surpreendido do tanto de Vinícius que encontro em Neruda. Não sei se aquele está realmente neste, ou se simplesmente suponho e desejo essa existência literária. De certo há que essa vontade de voltar aos contos do Pablão, que nos deixou naquele ano de 1973, nasceu da visita ao musical “Tom e Vinícius”, direção de Daniel Herz, que esteve aqui de passagem por Belo Horizonte. Aliás, permitam-me... a peça nada mais faz que ficar no Vinícius de sempre. Uma pena, pois a impressão que tenho é que nada mais será feito com o intuito desvelar o verdadeiro Poetinha depois do Documentário Vinícius, do Miguel Faria Jr.. Mas vamos às vacas frias. O que eu queria mesmo com esse post era apenas deixar aqui para vocês duas das coisas que mais me tocam desses dois escritores.

Soneto de Vinicius Dedicado a Neruda.
05 Soneto de Vinicius Dedicado a Neruda.wma

Quantos caminhos não fizemos juntos
Neruda, meu irmão, meu companheiro...
Mas este encontro súbito, entre muitos
Não foi ele o mais belo e verdadeiro?

Canto maior, canto menor - dois cantos
Fazem-se agora ouvir sob o cruzeiro
E em seu recesso as cóleras e os prantos
Do homem chileno e do homem brasileiro

E o seu amor - o amor que hoje encontramos...
Por isso, ao se tocarem nossos ramos
Celebro-te ainda além, cantor geral

Porque como eu, bicho pesado, voas
Mas mais alto e melhor do céu entoas
Teu furioso canto material!

Vinicius de Moraes



Soneto I **

Matilde, nombre de planta o piedra o vino,
de lo que nace de la tierra y dura,
palabra en cuyo crecimiento amanece,
en cuyo estío estalla la luz de los limones.
En ese nombre corren navíos de madera
rodeados por enjambres de fuego azul marino,
y esas letras son el agua de un río
que desemboca en mi corazón calcinado.
Oh nombre descubierto bajo una enredadera
como la puerta de un túnel desconocido
que comunica con la fragancia del mundo!
Oh invádeme con tu boca abrasadora,
indágame, si quieres, con tus ojos nocturnos,
pero en tu nombre déjame navegar y dormir.

*Vinicius de Moraes en São Paolo 'Homenagem aos três Pablos'
**100 sonetos de amor, pablo neruda

segunda-feira, outubro 12

sim
vida
quebra-cabeça sem luz
flores rubras pelo chão do quarto
giram o sol que me conduz
uma festa matutina
panos de purpurinas
chuva de laços coloridos
ladeiam a cama forrada de sonhos
sonhos inesatos
insensatos

quarta-feira, setembro 16

vida a dois

eu: ei delegado
tudo bem?

Helbert: caminhando...
caminhando...
to tendo muita discussão la em casa

eu: é
mas a gente vai levando

Helbert: pois eh!
Maristella não entende que nao deve comer o edredom
ki os ralos não foram feitos para servirem de brinquedos
ki o sofá foi feito para gente de duas patas
ki ela não pode dormir no quarto

eu: foda

Helbert: tá difícil viu
acho q vou deportá-la
hahahahahahha

eu: escreve um post para ela

Helbert: se bobear ela como o papel.

sexta-feira, setembro 4

O dia amanheceu claro. O céu borrado de azul parecia denunciar um motim orquestrado pelo verão que teimava não ceder lugar às folhas secas do outono. O cheiro de café fresco e quente aquecia e estimulava o olfato, dominando o perfume de eucalipto ainda molhado pela chuva que venceu a madrugada e que, de joelhos, pediu bênçãos ao primeiro raiar daquela manhã. Sim. Eram 6 horas da manhã. Lembro porque, no rádio de válvulas, o terço era cantado. Cantado por pessoas simples, de olhar temente e mãos marcadas por vincos que se confundiam com as valas onde semeavam cafés. Sim, eu vi. Eu estava lá, sentado à sala, em frente à porta aberta, ao azul no céu e, no mesmo instante, sentia as mãos das donas daquelas vozes femininas que entoavam o padre nosso e uma salve rainha me acariciando a fronte, como quem diz: “siga. A vida é feita da falta também. E nem por isso ela deixa de ter cheiro de café fresco, passado na hora.”

quinta-feira, agosto 6

"Baú de Ossos"

Quando chegávamos era hora do café na sala de jantar da Inhá Luíza. Café fresco, pelando, bem fraco e servido em xícaras grandes. Vinha forte e era adicionado, na hora, da água quente que a Rosa e a Deolinda despejavam das chaleiras de ferro que tinham que ficar segurando ao lado da mesa. Leite, não. Quando muito, queijo-de-minas para pecar e deixar amolecendo dentro do café fervente. Pão alemão fofo e macio, cheiroso, ao partir, como um trigal. E o cuscuz de fubá doce. Feito em metades das latas do queijo do reino furadas a prego e onde a mistura cozia em cima do vapor de uma panela. Já no jardim se sentia o cheiro do café, do pão, do fubá, do açúcar mulatinho.

Pedro Nava, Baú de Ossos, Rio, 1972.

cão que ladra na rua

a vida pesa tanto e a ciência é tão leve!
o que escolher?

sexta-feira, julho 31

quarta-feira, julho 22

a vida é imenso caos. por isso creio em apenas duas saídas: um tiro na cabeça ou uma gargalhada sem pudores (uma espécie de síndrome do espelho invertido). saudades de ser palhaço.
e-mail:

"Cara, você também causou em mim este desejo de saber. Os encontros são ricos e a interlocução apaixonada. Somos assim: intensos, apaixonados e implacáveis na forma. Se seu texto comoveu e causou reação tão singular é porque você se colocou nele. Nietsche, Freud, Bataille e todos aqueles que ousaram pensar também com suas víceras incomodaram saudavelmente. Não há outra maneira. Vosmicê é um grande pensador e terá que se haver com os efeitos disso. E também quero ouvi-lo."

segunda-feira, julho 20

Coração em Desalinho
Composição: Mauro Diniz-Ratinho

Numa estrada dessa vida
Eu te conheci
Oh Flor!
Vinhas tão desiludida
Mal sucedida
Por um falso amor...

Dei afeto e carinho
Como retribuição
Procuraste um outro ninho
Em desalinho
Ficou o meu coração
Meu peito agora é só paixão
Meu peito agora é só paixão...

Tamanha desilusão
Me deste
Oh Flor!
Me enganei redondamente
Pensando em te fazer o bem
Eu me apaixonei
Foi meu mal...

Agora!
Uma enorme paixão me devora
Alegria partiu, foi embora
Não sei viver sem teu amor
Sozinho curto a minha dor...

Numa estrada!
Numa estrada dessa vida
Eu te conheci
Oh Flor!
Vinhas tão desiludida
Mal sucedida
Por um falso amor...

Dei afeto!
Dei afeto e carinho
Como retribuição
Procuraste um outro ninho
Em desalinho
Ficou o meu coração
Meu peito agora é só paixão
Meu peito agora é só paixão...

Tamanha desilusão
Me deste
Oh Flor!
Me enganei redondamente
Pensando em te fazer o bem
Eu me apaixonei
Foi meu mal...

Agora!
Uma enorme paixão me devora
Alegria partiu, foi embora
Não sei viver sem teu amor
Sozinho curto a minha dor
Sozinho curto a minha dor
Sozinho curto a minha dor...

sexta-feira, julho 17

Rafa, moleque de 8 anos, de sorriso fácil, resolveu nos deixar. Isso ainda está batendo aqui como uma elegia desesperada, como um lamento piedoso que bate, bate e bate, deixando-nos surdos, cegos e incrédulos. é difícil sim crer nesta entidade maior que uns chamam deus. como pode ter tantas almas na mão, tantas vidas em seu colo e ser tão frio, tão calculista e obstinado a amputar de nosso corpo a parte mais pura. hoje acordamos sem o Rafa, quis o Rafa mais uma vez, quis arrancar o Rafa que existe dentro do peito do pai que o Wanderson hoje é. mas é impossível, os filhos e os pais, como os amores de verdade, são para sempre.

em alguma parte do universo há um sorriso fácil como o do Rafa para deixar isso aqui menos dor. me dói escrevê-lo. escrever para ficar livre. tudo tão egoísta.

terça-feira, julho 14

Retrato


Ela: oi!

Ele: owlas (exclamações)

Ela: ta vivo?

Ele: sim. muito trabalho, mas estou bem. e o nosso cine semanal? vamos neste fim de semana.

Ela: nem comento. no fim de semana você não existe. é uma vaga lembrança... J

Ele: te amo.

sábado, julho 11

sei que definitivamente o raiar é ilusão.
mas eu tenho o direito de sentir o cheiro da terra molhada.

terça-feira, junho 30

Mar que serpenteia o Arpoardor
Banha-me,
Acalma-me a alma
Isso que me ladeia
Encanta-me com sua harpa
Mesmo este resto que ainda é dor
Rio meu, de margens tortas
Corredeiras
Feitas de pedras finas, lisas e faceiras
Perco-me em seus leitos
Peitos de meninas esculpidas em argila.
A benção de um Rio de Janeiro
São Sebastião.

sexta-feira, junho 12

já estava assim desde um tempo atrás.
agora resolvi olhar para ele.
estava cansado. e não sei pq.
sentia tudo pesado.
sem forças para seguir.
os sonhos estranhos pontuam a toada.
os cigarros trazem à noite escura
o branco de outras enluaradas.
o que não é bom. mas é o que alivia.

quarta-feira, junho 3

E o mundo ainda não aprendeu.

*"Dói internar um filho.

Às vezes não há outro jeito"


ontem, lendo uma reportagem de uma revista semanal que trazia entre outras fontes *Ferreira Gullar... me lembrei de Sorôco, do Guima. o tema da reportagem era como sempre o da moda: o sofrimento mental, que foi guindado às grandes rodas de discussões graças a um personagem da novela global. bem, como o tema veio à baila pouco nos interessa, afinal, a sociedade é movida por esses repentes midiáticos mesmo, mas o que nos toca aqui é olhar para a questão, e Ferreira o faz com a sensibilidade de quem sentiu o arfar da realidade dos sonhos sobre os ombros dos filhos.

ao meu ver o diálogo a respeito das questões psíquicas em nosso país ainda se arrastam, apesar de tudo isso que uns apontam como avanços dignos de nota e louvor. mas não. na prática a coisa funciona de uma outra forma. profissionais trocam o diálogo com os familiares por "jaules" e um abraço amigo por doses cavalares de Aldol. em Belo Horizonte, a clínica Casa Freud, que tinha a proposta mais honesta e digna sobre a qual já ouvi falar e pude ler sobre não foi à frente. conversando com o seu idealizador, ouvi que faltava apoio. bem, e é essa mesma sociedade, que nega apoio a projetos responsáveis, que vira o rosto para o diferente, que quer sentar para discutir a questão. não, melhor não. é melhor deixar a fala apenas para pessoas que, como Gullar, sentem ou sentiram o que é partilhar a ilusão das coisas com os seus entes queridos.


Foto: reprodução Epoca - Gullar posa
no apartamento em que mora sozinho,
em Copacabana. O filho Paulo vive há
cinco anos num sítio em Pernambuco.


Sorôco, sua mãe, sua filha
(Guimarães Rosa )

Aquele carro parara na linha de resguardo, desde a véspera, tinha vindo com o expresso do Rio, e estava lá, no desvio de dentro, na esplanada da estação. Não era um vagão comum de passageiros, de primeira, só que mais vistoso, todo novo. A gente reparando, notava as diferenças. Assim repartido em dois, num dos cômodos as janelas sendo de grades, feito as de cadeia, para os presos. A gente sabia que, com pouco, ele ia rodar de volta, atrelado ao expresso daí de baixo, fazendo parte da composição. Ia servir para levar duas mulheres, para longe, para sempre. O trem do sertão passava às 12h45m.

As muitas pessoas já estavam de ajuntamento, em beira do carro, para esperar. As pessoas não queriam poder ficar se entristecendo, conversavam, cada um porfiando no falar com sensatez, como sabendo mais do que os outros a prática do acontecer das coisas. Sempre chegava mais povo – o movimento. Aquilo quase no fim da esplanada, do lado do curral de embarque de bois, antes da guarita do guarda-chaves, perto dos empilhados de lenha. Sorôco ia trazer as duas, conforme. A mãe de Sorôco era de idade, com para mais de uns setenta. A filha, ele só tinha aquela. Sorôco era viúvo. Afora essas, não se conhecia dele o parente nenhum. (continua).



quarta-feira, maio 27

domingo, maio 24

na verdade estar aqui e ser assim,
afeito ao que é amargo e às promessas possíveis
e ainda assim intangíveis de amor,
é simplesmente a vontade
de se estar à altura desse momento único,
recortado no tempo,
que chamam de vida.

domingo, maio 17

morada da dama de rapina, cortina de rocha que me adorna e me acovarda a alma, durma no silêncio, atlântica-cerradeira, embalada nas rochas e sob o olhar da deusa natureza. petrifique este amor que, ora adormecido, hoje se nega ao olvido -
feridas banhadas pelo malte destilado, aquelas que me calam a alma.
morada da dama de rapina, banha-me em suas águas, fruto de suas chagas, unja meu sorriso, me faz homem sem destino.
morada da dama de rapina, cortina de rocha lisa, alise com sua sombra a minha face vincada de sobrancelhas grossas e pupilas negras.
morada da dama de rapina, berço das minhas alegrias, dos meus melhores dias, me cure de mais este dia.

terça-feira, maio 12

eu não estou inspirada neste momento e o gosto de cigarro e de cerveja em minha boca, mais a frustração de estar sem sexo me impedem de pensar em qualquer coisa que não seja um banho quente e em meus lençois finos.

aqueles novos, que eu comprei?

não, me apetessem mais os velhos e surrados que carregam minhas memórias, minhas dores e meus sorrisos (bem, esquece esta coisa de sorriso, não seria esta a palavra correta para esse mover de lábios em sosláio). me passe um cigarro?

sim, mas coloque uma música, é preciso ter som nisso tudo.

e eu apenas queria um texto em quatro mãos? para o resto... eu preciso comer mais feijão. não ria das minhas preocupações tão chocolate, são apenas essas coisas que fazem do universo masculino lugar comum que qualquer camiseta regata resolve, entende? por isso talvez eu seja menos afeito a elas. sou mais o rosa, o andar com cuidado, como caminhar em nuvens...

quinta-feira, maio 7




Eu tive um sonho
Que eu estava certo dia
Num congresso mundial
Discutindo economia

Argumentava
Em favor de mais trabalho
Mais emprego, mais esforço
Mais controle, mais-valia

Falei de pólos
Industriais, de energia
Demonstrei de mil maneiras
Como que um país crescia

E me bati
Pela pujança econômica
Baseada na tônica
Da tecnologia

Apresentei
Estatísticas e gráficos
Demonstrando os maléficos
Efeitos da teoria

Principalmente
A do lazer, do descanso
Da ampliação do espaço
Cultural da poesia

Disse por fim
Para todos os presentes
Que um país só vai pra frente
Se trabalhar todo dia

Estava certo
De que tudo o que eu dizia
Representava a verdade
Pra todo mundo que ouvia

Foi quando um velho
Levantou-se da cadeira
E saiu assoviando
Uma triste melodia

Que parecia
Um prelúdio bachiano
Um frevo pernambucano
Um choro do Pixinguinha

E no salão
Todas as bocas sorriram
Todos os olhos me olharam
Todos os homens saíram

Um por um
Um por um
Um por um
Um por um

Fiquei ali
Naquele salão vazio
De repente senti frio
Reparei: estava nu

Me despertei
Assustado e ainda tonto
Me levantei e fui de pronto
Pra calçada ver o céu azul

Os estudantes
E operários que passavam
Davam risada e gritavam:
"Viva o índio do Xingu!

"Viva o índio do Xingu!
Viva o índio do Xingu!
Viva o índio do Xingu!
Viva o índio do Xingu!"

letra: Gilberto Gil - Um Sonho
imagem: Roberto Jayme/Reuters (ele vai me perdoar
pela distorção da imagem, era preciso)

terça-feira, abril 28

- Interesses?
- Ora! Sons do Vina e do Tom e as cores emaranhadas de Pollok. Sem contar as palavras escritas de Carlos e de Fernando e as gargalhadas de Elis. Opa! Esqueci das linhas do Guima e das primas do Guinga.

domingo, abril 26

o que é psíquico é tão único e singular que nenhuma comparação pode refletir a sua natureza.


Freud


No primeiro momento,

embalados ao som da roda do Oleiro e seduzidos pelo desejo de tocar e dar formas aos sentimentos, eles se entregaram à possibilidade de forjar o amorfo. E do desejo em comum, surgiram os primeiros traços de amor. Era sereno e indecifrável, abrigava todas as formas, cores, sons e olhares.

No segundo momento,

As mãos se enlaçavam ao que era barro e desse jogo de cumplicidade nasciam silhuetas e sombras que se transformavam em artefatos poéticos. Máscaras, peças sacras e totens, brotavam como fossem todos parte daquele ritmo tênue da máquina e do calor tépido do forno.

Num terceiro momento – como já não havia como: raiou a arte, que, antes de todos os preceitos e conceitos estéticos, se fazia apenas como deveria ser: a explosão de sentimentos. Encontro do outro, de si e da forma da coisa que será o elo entre duas ou mais pessoas que se encontram.

Playing For Change: Song Around the World "Stand By Me"

é só mais uma dessas coisas que encontramos por aí... nas esquinas. coisa de caminhante.

sábado, abril 18

tem celebridade querendo jogar uma colheguinha minha do trio elétrico.

*"Ser mãe é se divertir no trio elétrico

O tema foi uma sugestão da minha amiga Carla Alves (sugerir assunto para esta coluna, aliás, é muito comum aqui na redação. Vira e mexe vem alguém pedir para eu escrever sobre isso ou aquilo. Só acato, evidentemente, aqueles que tenham a ver com o que eu penso, como este de hoje). Desde o Carnaval, Carla está revoltada com Claudia Leitte. Tudo porque a cantora de axé nem bem tinha parido e já estava serelepe em cima de um trio elétrico, magérrima. O "Fantástico" fez até uma matéria sobre a aventura que foi dar de mamar ao bebê em pleno Carnaval. A Globo acompanhou "a trajetória" do leite, desde o momento em que foi retirado do seio de Claudia até a chegada na casa onde se encontrava o pequeno Davi. As matérias dos jornais, Carla me conta, afirmavam que a cantora levava pra cima e pra baixo uma manta com o cheiro do bebê, no caso de sentir saudade. "O que ela não sabe é que o filho é que sente falta dela", diz minha colega, irritada. Carla tem toda a razão.

Tenho convivido com grávidas com muita frequência, desde que trabalho neste jornal. Foram nestes 12 anos de O TEMPO, umas duas ou três por ano. Todas, sem exceção, voltam tristíssimas da longa - e necessária - licença maternidade, que, juntando com as férias, dá uns cinco meses. Tristíssimas e divididas. Mulheres modernas que são não pensam em abandonar a profissão para ficar em casa cuidando do filho. Ao mesmo tempo, sentem saudades do convívio diuturno com o bebê e sofrem de imaginar que ele está sentindo falta da mãe por perto. Por isso, fica difícil entender por que uma pessoa simplesmente abre mão desse período tão importante para mãe e filho para se apresentar em cima de um trio elétrico. Embora não consiga compreender, tenho aqui uma lista de motivos que podem levar pessoas desse tipo a agirem dessa maneira. Primeiro, marketing. Imaginem vocês quantas reportagens renderam em cima da decisão da cantora de se apresentar no Carnaval um mês após ter dado à luz.

"Claudia Leitte vai usar ordenhadeira portátil durante Carnaval"; Claudia Leitte se divide entre Davi e o Carnaval"; "Claudia Leitte grava choro do filho para ouvir durante folia"; "Claudia se diz feliz em conciliar trabalho e família" foram algumas dos títulos de matérias que saíram sobre ela na época. A segunda hipótese, que não elimina a primeira, é dinheiro. Imagino que deixar de sair na folia de Salvador deve significar menos rendimentos na conta do artista. Outra possibilidade, que também não descarta as anteriores, é, não aparecendo, ser esquecida, substituída por um talento emergente. E, claro, aquele que, sendo Claudia Leitte mulher e artista, deve ter sido determinante para a decisão: mostrar que atingiu a plena forma em tempo recorde, coisa que a imensa maioria das mulheres não consegue - talvez porque nem esteja interessada nisso. Ano que vem, a cantora já prometeu levar David, que estará com apenas um ano de idade, para cima do trio elétrico. Isso não tem fim. Quando ela sair de cena. Virá outra em seu lugar. Bem-vindos ao mundo das celebridades, onde vale tudo."

*o itálico não é meu. é de uma mocinha muito porreta!
um saravá à S.M
e à Dani e à Letícia tb, claro.

terça-feira, abril 14

hoje amanheci com medo.


*"Eu tenho medo e medo está por fora
O medo anda por dentro do teu coração
Eu tenho medo de que chegue a hora
Em que eu precise entrar no avião

Eu tenho medo de abrir a porta
Que dá pro sertão da minha solidão
Apertar o botão: cidade morta
Placa torta indicando a contramão
Faca de ponta e meu punhal que corta
E o fantasma escondido no porão..."

pequeno mapa do tempo, belchior

quinta-feira, abril 9

coisa de bar.

Rafa: http://www.youtube.com/watch?v=w29QxilQw8
Eu: vamos almoçar no mercado central?
Rafa: uma boa. vou ganhar o chapéu? kk
Eu: not!
Rafa: amarracation
Eu: rs, vamos fazer o seguinte. vc paga 40 reais da boina e eu completo. assim eu te pago os 40 que te devo e vc me paga os 70 que eu te emprestei. hahahahaha! outra possibilidade: a gente bebe 30 reais e eu pago. ou outra possibilidade: a gente compra 30 reais de carne e o michel paga a cerveja (para compensar o bolo que ele deu na gente da última vez. entendeu? não? tá muito embolado? se tiver... fodas, a nossa amizade é assim mesmo. hahahahaha!
Rafa: olha aqui, negócio é negócio! hj vai ter churrasco e cerva em gratdão a sua força constante
mas não abro mão de ter uma boina pra usa-la contigo no café nice. kk. te amo negão.
Eu: posso postar essa nossa conversa no meu blogue?
Rafa: hahahaha! sinto falta de mim lá.
Eu: poisé cara, às vezes sinto falta de mim ali tb. houve um tempo em que estive mais presente. hoje me escorrego entre uma música e outra que posto ali. ainda vou cair nesse movimento!
Eu: bora pro Mercado comer aquele feijão tropeiro com couve e tomar uma cerva?
Rafa: tem q ser agora. vão bora!
Eu: pro mercado central.

terça-feira, março 31

1964

é assim mesmo. em tipos altos, cólera nos olhos e dedos inquietos, no coração?, batidas firmes e traquilas. quero que sejam minhas as palavras da Camila Rodrigues.

aspas
ENQUANTO A GENTE TIVER QUE ENGOLIR CALADO A "DITABRANDA" DEFENDIDA PELA FOLHA DE SÃO PAULO, IGNORAR TODAS AS HERANÇAS DEIXADAS PELA DITADURA EM NOSSA SOCIEDADE, SÓ PODEREMOS TER QUE ENGOLIR MILITARES "COMEMORANDO" O QUE ELES AINDA CHAMAM DE "REVOLUÇÃO DEMOCRÁTICA"... ORA, O DIA 31 DE MARÇO, COMO DISSE A SENHORA DO "TORTURA NUNCA MAIS" É UMA VERGONHA PARA A MEMÓRIA DESTE PAÍS, ENTRETANTO OS MILITARES AINDA REPRODUZEM O DISCURSO QUE TERIA QUE SER IMPOSSÍVEL DE SER ACEITO: SÓ AGORA EM 2009 UM MILITAR FOI CONSIDERADO CULPADO PELA TORTURA DE DUAS PESSOAS! DUAS PESSOAS... E AS OSSADAS DO CEMINTÉRIO DE PERUS, POR EXEMPLO? AQUILO FOI RESULTADO DE UM PEQUENO ACIDENTE?
COMO EU FALAVA MUITO AOS MEUS ALUNOS NO ANO PASSADO: NÃO QUERO CONVENCÊ-LOS DO QUE EU CONSIDERO MELHOR, SÓ QUERO É QUE ELES NÃO ACREDITEM DE ANTEMÃO EM TUDO O QUE FALAM, APRENDAM A REFLETIR CRITICAMENTE SOBRE AS COISAS, SE ELES TOMAREM ISSO COMO HÁBITO, VÃO SE SAIR BEM EM MUITOS MOMENTOS DA VIDA.
SE PUDEREM, ASSISTAM AO VÍDEO E O DIVULGUEM PARA QUE TODOS POSSAM FORMAR SUAS PRÓPRIAS OPINIÕES.
CAMILA
aspas

domingo, março 22

sexta-feira, março 20

Vivas ao Homem-índio da reserva Raposa/Serra do Sol, em Roraima!!!

Mais de 1,7 milhões de hectares de terra, no extremo norte de Roraima e uma quadrilha comandada por uma meia-dúzia-de-bem-corados-e-nutridos arrozeiros.

Esse era o nome do jogo.


terça-feira, março 17

*Batidas na porta da frente...

Éh! Não adianta olhar para mim, ler e procurar aqui os vestígios dos melhores tempos de sua vida. Sinto, mas esses não foram os melhores momentos de sua parca existência. Não se iluda, olhe a sua volta, o sorriso de sua companheira, a balburdia que as crianças fizeram pela casa e esse bendito cachorro que não aprende que lugar de bicho é lá fora. Não fique assim, é férias, é natural.
Claro, ficarás tentado a achar o contrário, que sua companheira já não tem os encantos da juventude, que as crianças sofreram e absorveram a má influência dos avós e que o cachorro... o cachorro... bem,

- Mas nem era para ele vir, nem temos tanto espaço na casa. Isso é coisa dos avós, eles e essa mania de fazer as vontades das crianças, tsc, tsc, tsc!

Dir-me-ia, balançando a cabeça negativamente, com a voz um pouco mais grossa, se estivesse aqui ao seu lado.
cara, mas o ... (não sei o nome dele, pois o tempo que nos separa me impede de tais profecias. Ademais, sabe-se lá qual será o nome da moda que vai seduzir os curumins e encorajá-los a chamá-lo de.) está aí, e descartá-lo, a história mostra que não é uma boa saída. (vide Vanilla**).
Sem dúvidas, ficou encantado por todas as descobertas que fez no decorrer destas três primeiras décadas, os amigos, as poucas, mas únicas paixões, o amor e as perdas daquelas pessoas importantes (pois as perdas – como as derrotas - também nos completam e nos tornam vencedores, nos enchem). Ok, é natural que toda aquela liberdade ainda o seduza. Era a vida que começava a ser vivida, cabra. E lhe digo que, assim como esse texto nasceu daquele sopro em seu ouvido, a existência também se faz e se refaz; de coisas pequenas, de palavras simples, de sons populares, de toques delicados, de simples olhares e de encontros.

Os encontros. Nossa! Raros e vitais. Responda-me uma coisa: foi fácil se abancar aí no computador e começar a reler nossas coisas neste blogue até se deparar com esse texto escrito numa manhã modorrenta de uma quarta-feira (dia de análise) de um janeiro qualquer? Nem sei o porquê da pergunta, mas meus parabéns! Com duas crianças dentro de casa, um cachorro, com a loucura do dia-a-dia e com a parte que lhe cabe nas tarefas domésticas, é um feito! Acho bom você reativar o CC e me contar como foi capaz de fazer isso.
Mas vá lá, afunde-se nos outros posts que estão aí pras bandas de cima (pois, se ainda és um bom blogueiro, sabes que a melhor maneira de começar a ler um blogue, sem perder o fio da coisa, é começar dos posts mais antigos) e refunde-se.


*Essas palavras abrem o primeiro verso da música: Resposta ao Tempo, de Aldir Blanc e Cristovão Bastos
Na voz de Nana Caymmi.

**Vanilla era o nome daquele cahorro que chegou lá em casa em um dia qq de um janeiro distante. Lembra? Se não estiver lembrando, ligue para a Priscila, ela vai te ajudar. rsrs! Acho que ela não esqueceu dos 15 pontos que levou na perna por conta de umas brincadeiras dele. Como chovia naquele dia. Nossa!

***Atualizado em 10/3. Vou parar por aqui pq acabou de chegar uma pessoa muito querida por aqui, a Rebecca.

sábado, março 14

Entre les murs I


em 2002/2003 trabalhei em um projeto de análise comparativa, os jornais brasileiros e franceses estavam em pauta. na época pipocava em toda mídia francesa matérias sobre os problemas nas escolas públicas - principalmente naquelas da periferia. lá, jornais como o France 2 debatiam a situação à exaustão, mas não bastou. dali há alguns meses estourou aquela série de conflitos nos subúrbios de Paris. Levantes que tinham à frente filhos de, e imigrantes desempregados e inadequados à sociedade parisiense.

Entre les murs II



é fácil perceber causadequê Entre les murs nem foi lembrado para o Oscar: ele reflete o outro. a sociedade estadunidense tem um certo probleminha com essa coisa de outridade. bom, eu não sou ninguém importante e/ou qualificado para dizer: "A derrota no César, prêmio da academia francesa, e a perda do Oscar de filme estrangeiro não abalam Cantet. Nem deveriam: seu filme está muito acima das idiossincrasias acadêmicas. Até por olhar para a educação, tema chave para entender os problemas sociais atuais, é um dos grandes filmes de sua época." o que posso fazer é indicar uma boa leitura aquis, alis, alhures e acolás para aqueles que gostam de cinema.

quinta-feira, março 12

na sala 112

- como vai?
- em busca de.
risos
- de quê?
segundos de silêncio.
- ow! o Salvador Dali está torto.
- é. a minha secretária o derrubou. na queda, um dos suportes que dá sustentação a ele se quebrou, então...
- a religião dela não permite?
risos
- não sei. ela vive dizendo que quem pintou o quadro deve ser doente da cabeça. acho que ela está certa. risos.
- é! e eu sou muito lúcido para ter uma cabeça boa.

mais risos.

- mas vamos ao que importa... como foi a semana?

...

quarta-feira, março 4

Nunca gostei de praia,
muito menos me encantou aquele Rio de Janeiro dos postais,
das descrições singelas de meu amor.
Mas pisarei em suas areias,
sentirei os seus cheiros
e olharei suas paisagens.

Contemplarei.
Não direi uma só palavra.
E serei salvo.

sábado, fevereiro 28

como ganhar o mais emplumado prêmio da indústria de cinema norte-americana e encher a burra de milhões de dólares colhidos em salas de cinemas loteadas pelas grandes distribuidoras? marque a resposta correta. (valor: 0,10 centavos de real)

A - basta fazer um filme que envolve crianças e personagens obstinados.
B - basta fazer um filme que reafirme o sonho de prosperidade estadunidense.
C - incluir um musical no filme.
D - colocar um pouquinho de cada um dos ingredientes dos itens A, B e C e torcer para que os velhinhos hollywoodianos acreditem que ali há Otis.

-----

entendam, nada contra. o trabalho de fotografia é muito legal. a câmera nervosa e as tomadas dão show. o roteiro é bom. e os atores são honestos. mas nada de novo, nem no filme nem na postura da maior industria cinematográfica do planeta (ao contrário que uns "críticos" andaram apontando). a fórmula é conhecida.

------

e se vc continua achando que sou mau e que estou exagerando... clique na carinha simpática deste moço óculos aí ao lado (foto:John Amis/AP). ele, sim, é pedreira. o nome dele é Rushdie, Salman Rushdie (pesquisa lá no google). ele é é figura muito conhecida no Irã, para se ter uma idéia da popularidade dele basta saber que a cada grupo de mil de iranianos - não-radicais -, 999 querem a cabeça dele numa bandeja. bom, mas isso é outra história, o que importa é que nosso amigo aí disse que o livro ("Sua Resposta Vale um Bilhão", do indiano Vikas Swarup) inspirou o filme carece de confiança e está ultrapassado.



*atualizado: domingo, 1 de março, 19h23.


terça-feira, fevereiro 24

viver.
passar horas
em segundos a fio,
longos e sofridos.
esperar com ansiedade,
angústia, medo e desejo
o momento de encontrar o olhar,
do tocar de mãos,
do sentir do corpo,
de deixar o coração se embriagar de êxtase,
da alma voar livre,
e da razão esquecer-se,
e enfim amar.
ser o despojamento da razão,
e muito mais que a loucura da paixão.
Ser a serenidade
de dois seres que formam um.
e este um, formado por cada um.

img: Edgar Ausderix
Pássaros

segunda-feira, fevereiro 23

Dans Paris

816
01:13:27,826 --> 01:13:28,826
Alô?

817
01:13:31,500 --> 01:13:32,500
Alô?

818
01:13:36,480 --> 01:13:38,516
Você sabia, minha querida,

819
01:13:39,360 --> 01:13:41,590
que o mais brilhante
amor perde o brilho

820
01:13:43,560 --> 01:13:45,994
o sol sujo do dia que brilha

821
01:13:46,080 --> 01:13:48,071
os sujeita ao tormento

822
01:13:50,640 --> 01:13:53,632
eu tenho uma idéia irrefutável

823
01:13:54,120 --> 01:13:57,590
para evitar o insuportável

824
01:13:57,680 --> 01:14:01,309
antes do ódio
antes do choque,

825
01:14:02,680 --> 01:14:04,750
dos gritos e discussões.

826
01:14:04,840 --> 01:14:08,310
Antes do arrependimento
e do desgosto

827
01:14:09,840 --> 01:14:11,273
Vamos terminar agora, por favor.

828
01:14:11,360 --> 01:14:15,831
Não. Eu te beijo e isso passa.

829
01:14:15,920 --> 01:14:17,319
Você pode ver.

830
01:14:18,640 --> 01:14:20,915
Você não pode
me largar assim.

831
01:14:27,720 --> 01:14:31,269
Você achou que
seria capaz de

832
01:14:31,840 --> 01:14:33,956
me deixar pendurada

833
01:14:34,880 --> 01:14:38,395
no grande amor
que precisa morrer.

834
01:14:38,920 --> 01:14:41,229
Mas veja, eu prefiro

835
01:14:41,920 --> 01:14:45,356
as tempestades inescapáveis

836
01:14:45,440 --> 01:14:48,876
à sua mísera idéia

837
01:14:48,960 --> 01:14:50,518
antes do ódio

838
01:14:50,600 --> 01:14:52,556
antes do choque

839
01:14:54,080 --> 01:14:55,991
dos gritos e discussões

840
01:14:56,080 --> 01:14:57,798
antes da tristeza

841
01:14:57,880 --> 01:14:59,677
e do desgosto.

842
01:15:01,120 --> 01:15:02,678
Vamos terminar agora, você diz.

843
01:15:02,760 --> 01:15:06,912
Mas você me beija e isso passa,

844
01:15:07,000 --> 01:15:08,718
eu posso ver

845
01:15:10,040 --> 01:15:12,315
você não está largada assim.

846
01:15:19,200 --> 01:15:22,590
Eu poderia te evitar ao máximo

847
01:15:22,680 --> 01:15:26,036
mas o melhor agora é chegar

848
01:15:26,120 --> 01:15:27,872
antes do ódio

849
01:15:27,960 --> 01:15:29,916
antes do choque

850
01:15:31,320 --> 01:15:33,231
dos gritos e discussões

851
01:15:33,320 --> 01:15:35,117
antes da tristeza

852
01:15:35,200 --> 01:15:36,952
antes do desgosto.

853
01:15:38,400 --> 01:15:39,833
Vamos terminar agora, por favor.

854
01:15:39,920 --> 01:15:44,436
Não. Eu te beijo e isso passa.

855
01:15:44,520 --> 01:15:45,589
Você pode ver.

856
01:15:45,680 --> 01:15:47,352
Antes do ódio

857
01:15:47,440 --> 01:15:49,715
antes do choque

858
01:15:50,840 --> 01:15:52,637
dos gritos e discussões.

859
01:15:52,720 --> 01:15:54,472
Antes da tristeza

860
01:15:54,560 --> 01:15:56,437
e o desgosto.

861
01:15:57,840 --> 01:15:59,273
Vamos terminar agora, você diz.

862
01:15:59,360 --> 01:16:03,956
Mas você me beija e isso passa.

863
01:16:04,040 --> 01:16:05,359
Eu posso ver.

864
01:16:10,320 --> 01:16:12,709
Você não pode me largar assim.

865
01:16:17,440 --> 01:16:19,829
Você não pode me largar assim.

866
01:16:25,520 --> 01:16:26,794
Dê um beijo no Loup!

sexta-feira, fevereiro 20

Poeminha incidentalmente carnavalesco

Lá se vai o cortejo
A Colombina louca pede
Na boca! Na Boca!

quinta-feira, fevereiro 19

O olhar para trás nada mais é que celebrar. É irmos ao encontro de nós mesmos, uma chegada ao fruto de nossa fantasia cultivada sobre tudo aquilo que somos. Mas, não obstante, o que ele nos impõe é, antes de tudo, uma colisão naquilo que não somos, ou, ao menos, naquilo que não esperamos ser. É como se encarássemos um espelho e déssemos de frente com uma pessoa outra, diferente daquela que imaginávamos ser no campo simbólico.

...

O que fica ao fim é um silêncio violento, que grita e me obriga a agir como o personagem de um livro qualquer lido na adolescência que sempre repetia a frase: não quero fazer mais nada que não seja resultado de um ato de amor.

quarta-feira, fevereiro 18

She
May be the face I can't forget
A trace of pleasure or regret
May be my treasure or the price I have to pay
She may be the song that summer sings
May be the chill that autumn brings
May be a hundred different things
Within the measure of a day.



She
May be the beauty or the beast
May be the famine or the feast
May turn each day into a heaven or a hell
She may be the mirror of my dreams
A smile reflected in a stream
She may not be what she may seem
Inside her shell

She who always seems so happy in a crowd
Whose eyes can be so private and so proud
No one's allowed to see them when they cry
She may be the love that cannot hope to last
May come to me from shadows of the past
That I'll remember till the day I die

She
May be the reason I survive
The why and wherefore I'm alive
The one I'll care for through the rough and ready years
Me I'll take her laughter and her tears
And make them all my souvenirs
For where she goes I've got to be
The meaning of my life is

She, she, she

*música: Elvis Costello
imagem: não sei de quem é.

sábado, fevereiro 7

A Troca; vale.

uma pergunta: quem não gostaria de ser John Malkovich?

este foi o que fechou uma noite de trabalho de uma semana louca de trabalho.

sexta-feira, fevereiro 6

i go

quero seu perdão
por antecipação
se eu não suportar
essas coisas insanas
que me arrematam
o coração.

terça-feira, fevereiro 3

Estrada Real da Cachaça

foi no 12ª Mostra de Cinema de Tiradentes - MG.
um canto ao líquido.

domingo, janeiro 25


"O Curioso Caso de Benjamin Button". um filme, antes de tudo, sobre a existência. Sobre o viver.


e por falar em existir...

nota.

um minuto de silêncio em homenagem a quem deixou esse exercício mais leve para pessoas como eu: Jilçária Cruz Costa ou - simplesmente e com um sorriso no rosto -Tia Doca. ela se encantou na tarde deste domingo (25/01).

bom, o minuto já passou. então agora vamos encurtar o tempo do surdo e entoar um samba bonito. os deuses do samaba devem ser celebrados e reverenciados como se manda a tradição.
choro?, apenas de gente da estirpe de mestres como Pixinguinha e Altamiro Carrilho.


sábado, janeiro 24

amores ilícitos.
delírios etílicos.
tudo
entre primas dedilhadas.
o vibrar lírico
dos dedilhos oníricos.


ontem começou o
12° Mostra de Cinema de Tiradentes.

quinta-feira, janeiro 22

"...E perguntei a ele: como podemos gostar tanto de alguém que nem conhecemos?"

resposta: são os encontros, j.. muitos vagueiam sem fim. buscam procelas e vagas na vã esperança de encontrar alguém, um marujo, sabe?, um amigo para naufragar visões siamesas em águas de preamar. já outros poucos deslizam simplesmente nas marolas do vento norte que vagueiam nas vertentes que anunciam às vidas o laranja-ouro das larvas de um vulcão extinto que habita o coração e aquece a alma. esses últimos são raros, raros como o calor e um carinho de amor.

até um de-repente,

*"De alto cedro voy para marcané
Llego a cueto voy para mayari"

*Francisco Repilado

sexta-feira, janeiro 16

flores de acácias no quintal
cheiro de mato molhado na pele
mãos macias, cor ainda de terra,
no branco invisível da roupa viva no varal.

por mais absurdo que se parecia
esse era seu mundo.
de dor e de alegria,
de segredos de nostalgia.




sábado, janeiro 10

atores do futuro de uma antiga história

Menina palestina olha pela janela da escola da ONU que serve de abrigo para toda sua família, em Jarbala, na Faixa de Gaza. Os confrontos foram retomados na região após uma trégua entre Hamas e Israel, para liberar ajuda à região.

Palestinos carregam os corpos de três bebês mortos durante ataques israelenses.

Garotinho palestino chora nos corredores de uma escola da ONU na Faixa de Gaza. Ele está abrigado no local desde que teve de fugir de casa com a família, devido aos ataques das tropas de Israel. Uma outra escola das Nações Unidas que virou abrigo para os refugiados foi alvo de um ataque aéreo israelense. A ação matou três pessoas.


Palestino observa destroços de prédios atingidos por ataques aéreos no 14º dia da ofensiva israelense à região. O Conselho de Segurança da ONU pediu que Israel retirasse suas tropas de Gaza, após abstenção dos EUA na votação.



Garoto palestino chora em funeral de vítima de ataque aéreo na Faixa de Gaza. O conflito, que está prestes a entrar na terceira semana, já matou mais de 700 palestinos.



queira Deus, Allah, Ogum, Brahma ou seja lá quem mais for,
que as lágrimas de hoje não se transformem no terror de amanhã.

sexta-feira, janeiro 9

como se alimenta os "ismos"?

Mãe israelense protege seus filhos durante ataque de foguete ao sul do país.

Crianças palestinas participam de manifestação contra a ofensiva israelense na Faixa de Gaza.

quinta-feira, janeiro 8

*Carta aos judeus

Há mais de 60 anos seu povo clamou
ao mundo por solidariedade.
Chegou o momento de retribuir,
de mostrar que a solidariedade é um
sentimento universal


Por mais que o governo de Israel e todos os que o apoiam tentem, não irei odiar vocês, irmãos judeus. Ainda que as tropas israelenses matem centenas de crianças e pessoas inocentes, não irei desejar a morte de suas crianças nem jogar a culpa na totalidade de seu povo.

Mesmo que manchem a Faixa de Gaza com o sangue de um povo que também corre em minhas veias, metade árabe, não irei revoltar-me contra nenhuma etnia nem julgar que há raças melhores ou com mais direitos que outras, como quer nos fazer acreditar o governo israelense.

Embora eu também queira ouvir as vozes judaicas de protesto contra o massacre dos palestinos, não deixarei de condenar os que se calaram diante do holocausto judeu. E, mesmo que tomem à força a terra do povo árabe, não irei jamais apoiar o confisco dos bens do povo judaico, praticado há tempos pelo governo nazista.

Por mais que o governo de Israel e todos que o apoiam traiam a tradição hebraica dos grandes profetas que clamaram por justiça e paz, ainda quero manter viva a esperança que eles anunciaram. Mesmo que joguem sua memória na lata de lixo, faço dos profetas do antigo Israel os meus profetas, pois o anúncio da justiça não distingue credos, nações ou etnias.

Sei que muitos de vocês condenam a violência, não apoiam o massacre dos árabes palestinos e gostariam que o governo de Israel respeitasse as decisões da ONU e o clamor da comunidade internacional pelo cessar-fogo imediato. Mas gritem! Se sua voz não for ouvida, acreditar-se-ão com razão aqueles que ainda falam mal de seu povo.

Mesmo que sejam deploráveis todos os antissemitas, o silêncio dos judeus diante do massacre perpetrado pelo país que ostenta a estrela de Davi na bandeira pode ser usado como reforço para os argumentos torpes da superioridade racial.

Há mais de 60 anos seu povo clamou ao mundo por solidariedade. Chegou o momento de retribuir, de mostrar que a solidariedade é um sentimento universal e não restrito a uma etnia. Não deixem o governo de Israel fazer esquecer o quanto vocês sofreram como vítimas, só porque agora ele é algoz e está protegido pela maior potência mundial, os EUA.

Não permitam que a ação de Israel faça parecer que, apesar das manifestações mundiais de condenação, seu Estado se acredita o único que possui razão, pois era assim que o governo alemão pensava no tempo do nazismo.

Estejam certos de uma coisa: independentemente do resultado da absurda campanha israelense ou qualquer que seja a posição de seu povo diante da violência e injustiça cometida por aquele país, não irei ceder à tentação do pensamento racista; não irei apagar da minha memória a catástrofe do nazismo e o sofrimento do povo judeu; não irei pensar que há povos que não merecem nação e que devem ser eliminados; não deixarei de condenar o antissemitismo ou qualquer tipo de preconceito étnico.

Continuarei defendendo a ideia de que todos, sem distinção, somos iguais e temos os mesmos direitos: judeus, negros, árabes, índios, asiáticos etc. Manter-me-ei firme em minhas convicções, pois jamais quero me igualar aos governantes de Israel e àqueles que o apoiam.”

Faço minhas as palavras de meu querido amigo Maurício Abdalla, companheiro no Movimento Fé e Política, professor de filosofia da Universidade Federal do Espírito Santo e autor de reconhecida qualidade, como o comprova o texto acima, que tão bem traduz a indignação e a dor de tantos que testemunhamos a guerra do Oriente Médio.

Vários intelectuais judeus têm manifestado indignação frente às operações do Estado de Israel. Tom Segev, historiador e cientista político, escreveu no Haaretz que “Israel sempre acreditou que causar sofrimento a civis palestinos os faria rebelarem-se contra seus líderes nacionais, o que se mostrou errado várias vezes”. O escritor Amos Oz sublinhou: “Chegou o tempo de buscar um cessar-fogo”, com o que concorda o escritor David Grossman e o ex-chanceler israelense Shlomo Ben-Ami.


por Frei Betto, escritor, autor de A mosca azul –
reflexão sobre o poder (Rocco), entre outros livros.

sexta-feira, janeiro 2

Hundreds Die in Israel Raid on Gaza - جرائم العدو في غزة

Maior massacre de palestinos já visto.
e... como sempre... ignorado pelos líderes mundiais.

quem são os terroristas?
os terroristas são feitos de quê?