quinta-feira, outubro 29

ainda restam em meus lábios vestígios que demonstram a capacidade de sua ternura. é o que resta. esta angústia lenta que alenta o que queima num canto escuro do quarto. tudo já foi.

terça-feira, outubro 27

Tenho lido os 100 Sonetos de Amor, de Neruda. Leitura muito agradável e muito tenho me surpreendido do tanto de Vinícius que encontro em Neruda. Não sei se aquele está realmente neste, ou se simplesmente suponho e desejo essa existência literária. De certo há que essa vontade de voltar aos contos do Pablão, que nos deixou naquele ano de 1973, nasceu da visita ao musical “Tom e Vinícius”, direção de Daniel Herz, que esteve aqui de passagem por Belo Horizonte. Aliás, permitam-me... a peça nada mais faz que ficar no Vinícius de sempre. Uma pena, pois a impressão que tenho é que nada mais será feito com o intuito desvelar o verdadeiro Poetinha depois do Documentário Vinícius, do Miguel Faria Jr.. Mas vamos às vacas frias. O que eu queria mesmo com esse post era apenas deixar aqui para vocês duas das coisas que mais me tocam desses dois escritores.

Soneto de Vinicius Dedicado a Neruda.
05 Soneto de Vinicius Dedicado a Neruda.wma

Quantos caminhos não fizemos juntos
Neruda, meu irmão, meu companheiro...
Mas este encontro súbito, entre muitos
Não foi ele o mais belo e verdadeiro?

Canto maior, canto menor - dois cantos
Fazem-se agora ouvir sob o cruzeiro
E em seu recesso as cóleras e os prantos
Do homem chileno e do homem brasileiro

E o seu amor - o amor que hoje encontramos...
Por isso, ao se tocarem nossos ramos
Celebro-te ainda além, cantor geral

Porque como eu, bicho pesado, voas
Mas mais alto e melhor do céu entoas
Teu furioso canto material!

Vinicius de Moraes



Soneto I **

Matilde, nombre de planta o piedra o vino,
de lo que nace de la tierra y dura,
palabra en cuyo crecimiento amanece,
en cuyo estío estalla la luz de los limones.
En ese nombre corren navíos de madera
rodeados por enjambres de fuego azul marino,
y esas letras son el agua de un río
que desemboca en mi corazón calcinado.
Oh nombre descubierto bajo una enredadera
como la puerta de un túnel desconocido
que comunica con la fragancia del mundo!
Oh invádeme con tu boca abrasadora,
indágame, si quieres, con tus ojos nocturnos,
pero en tu nombre déjame navegar y dormir.

*Vinicius de Moraes en São Paolo 'Homenagem aos três Pablos'
**100 sonetos de amor, pablo neruda

segunda-feira, outubro 12

sim
vida
quebra-cabeça sem luz
flores rubras pelo chão do quarto
giram o sol que me conduz
uma festa matutina
panos de purpurinas
chuva de laços coloridos
ladeiam a cama forrada de sonhos
sonhos inesatos
insensatos