sexta-feira, dezembro 28
quinta-feira, dezembro 27
domingo, dezembro 16
rememorar III
O que fica ao fim é um silêncio violento, que grita e me obriga a agir como o personagem de um livro qualquer lido na adolescência que sempre repetia a frase: não quero fazer mais nada que não seja resultado de um ato de amor.
rememorar II
O olhar para trás nada mais é que celebrar. É irmos ao encontro de nós mesmos, uma chegada ao fruto de nossa fantasia cultivada sobre tudo aquilo que somos. Mas, não obstante, o que ele nos impõe é, antes de tudo, uma colisão naquilo que não somos, ou, ao menos, naquilo que não esperamos ser. É como se encarássemos um espelho e déssemos de frente com uma pessoa outra, diferente daquela que imaginávamos ser no campo simbólico.
rememorar I

Diferentemente das tradicionais, para essa viagem não são necessários camelos ou dromedários para o transporte a outros lugares, o meio é um só, a palavra; água, os ouvidos (aos mais atentos, diria, que esse meio de transporte pode ser potencializado pelo olhar ávido por um gesto, por um sinal na face ou por um entoar mais agudo na voz dos narradores, guias) e o destino é a memória, terreno fértil das coisas findas, onde se formulam escolhas e destinos, barreiras e desatinos, um limbo entre o presente vivido e o presente passado.
Uma vez a bordo da palavra, volta não há mais, o embarque é no vento, sem a necessidade de dar tempo ao que já não há. Se permitir que os olhos sejam atendidos por novos velhos caminhos e, em muitos casos, tecer o próprio novo caminho em busca de outros sítios arqueológicos de fósseis líquidos de nós mesmos é a proposta dessa viagem. “Só assim poderemos fincar os pés e escapar do turbilhão de permanente desintegração e mudança, de luta e contradição, de ambigüidade e angústia do que é ser moderno e parte do universo no qual, de acordo com Marx, ‘tudo que é sólido se desmancha no ar” *.
Os viajantes vão partir, na mochila cordas para amarrar os pés caso o grupo seja acometido por uma tempestade durante as noites frias do deserto e muita vontade de se forjar em um tempo outro visitado apenas pelos nossos narradores, guias.
* Marshall Berman in "Tudo que é sólido se desmancha no ar", 1981.
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