quarta-feira, outubro 31

terça-feira, outubro 30

Jean-Michel Basquiat

$intonia fina

o dono da Lojinha da Capital
sem pressentir a besteira grande
enganou o Consumidor Qualquer
fez ele passar tremendo vexame

só que de Zé Mané, o enganado nada tinha
e mais que de pressa botou a boca no mundo
e foi à rádio reclamar, já que não tinha assessoria
contou tudo, pontos e vírgulas, a todo mundo sem pestanejar
o homem do microfone disse "isso é um absurdo"
e que iriam ajudar

levantaram todas as informações
entrevistaram fontes, testemunhas
todos colaboraram e deram importantes declaracões
todos naquela folia,
naquela enorme investigação
chegou a hora de ouvir o Dono da Lojinha
então, bora ligar para assessoria

no calor do final do expediente
o telefone na maior tocação
as gentes com ar de impaciente
conversa alto na ligação
e a prosa vai ficando esquentada
dessa vez não é só enrolação

um pedaço de tempo é pedido
não tem mais o que argumentar
um outro celular ganha o ouvido
a verdade tem sempre o seu lugar

só que nessas paragens (feitas de verdes "$$ifras" de papel moeda)
o lugar cabe em um bolso
bolso largo de olhos grandes
o resto do papo já nem ouço
o assunto agora é pra poucos

o absurdo nem era tão
o mais importante de tudo
é que na rádio também tinha um charlatão
ou melhor
um ladrão


só pra não perder a rima:

tem neguinho que deveria ter outra profissão.

sexta-feira, outubro 26

Vander Lee - Meu Jardim

Tô relendo minha lida, minha alma, meus amores
Tô revendo minha vida, minha luta, meus valores
Refazendo minhas forças, minhas fontes, meus favores
Tô regando minhas folhas, minhas faces, minhas flores
Tô limpando minha casa, minha cama, meu quartinho
Tô soprando minha brasa, minha brisa, meu anjinho

Tô bebendo minhas culpas, meu veneno, meu vinho
Escrevendo minhas cartas, meu começo, meu caminho
Estou podando meu jardim
Estou cuidando bem de mim

a foto é de Cartier Bresson
"Como já é tradição, o show deve começar em tons pastéis para ganhar colorido mais vivo da metade para o fim. ‘Gosto de trabalhar com um espectro mais aberto em termos de repertório’, afirma Vander Lee.
O final, entretanto, deverá ser bem festivo, bem suingado e dançante. ‘Um show com leve inclinação para a dança e o canto coletivo. Mas a canção estará lá’, define."

quarta-feira, outubro 24

A revolta dos Coveiros

Tudo começou no domingo, às 18h, quando ele recebeu a notícia que a sua sogra havia passado desta para melhor ou pior – vai saber?, A velha era o cão. Bom, os detalhes do velório; choramingo falsos, a cama bem arrumada da defunta crente, as piadas entre os dentes e as orações dos pastores juniores – sim. pq pastor júnior é assim. aproveita um velório, um enterro, para testar a sua pregação (de saco), para testar o efeito de sua oratória junto aos fiéis e às fiéias-noviças (principalmente), pois, estas, pululam nas igrejas evangélicas e são bonitas e pastor pode até ser de deus, mas não é otário! hohoho! mas esses, e mais outras mazelas que se deram em torno do féretro ficam para um bate-papo presencial – chic, no?. pulemos para o instante final da cerimônia do adeus.

estavam lá, no cemitério, plantando a deitada no jardim de Deus, repleto de outras plantinhas caducas ansiosas por saber mais da nova vizinha, quando nos finalmentes do troço – que já estava de bom grado, pela santa que foi a velha, que agüentou o genro mala e safado que vivia traindo a filha querida da morta (depois te conto das peripécias do danado também. vais gostar - quando a pior espécime dos pastores (O JÚNIOR, aquele, sô!? De quem eu falava ali em riba! volta lá.), resolveu que aquele seria o momento exato, era a chance derradeira para ele confirmar a sua vocação de servo do senhor e aparecido de marca maior com gravata de elástico no nó e terno de tergal azul, tem de ser azul para combinar com a bíblia de capa de couro com as letras douradas. e assim o escolhido o fez.

prostrou-se, como de sempre, ao lado do caixão da velha, e começou a pregação... mas num é que na segunda frase do aspirante a edir macedo, que dizia "senhor qq coisa veio buscá-la pra si", um coveiro – O COVEIRO CHEFE, vim perceber depois, tamanha a sua desenvoltura e andar firme e olhar decido (daqueles: tira o pé do meu café)- veio em direção ao féretro e disparou: VAI DEMORAR? – silêncio no jardim de deus. em resposta à indagação firme e em bom tom do coveiro chefe, o pastor engoliu seco e rebateu:

_ só uns cinco minutinhos.

_ cinco minutos para nós é muito tempo. nós vamos é fazer outro enterro ali. e saiu pisando duro e replicandando, o Coveiro Chefe.

silêncio. que só é quebrado pelos barulhos das correntes-de-descer-defunto do jardineiro do senhor - que batiam umas nas outras, enquanto o coveiro chefe saia gruindo:

_os "cara" tem a noite toda para conversar com o defunto e vem rezar aqui. olha só pro c vê?, é muita moral para uma sogra. Terminou de resmungar a frase e saiu com os seus comandados, sim. eram mais outros cincos jardineiros de deus.

foi aí, que o homem lá de cima deu o devido castigo ao orador juvenil, aspirante a pastora sônia hernandes, da igreja renascer em miami, de preferência. vc crê que o cara ficou uns 20 minutos pregando? não pq ele quisesse, foi falta de coveiro para descer o bichão mesmo! o JÚNIOR suava e falava e passava folhas da bíblia e perguntava: "Amém, irmãos?"(que respondiam automaticamente: Amém!) e olhava pro lado e nada de coveiro para descer a sogra querida. Até que não agüentou mais e terminou o discurso. foi aí que chegou a hora de terminar com a oratória e procurar o coveiro chefe e sua trupe - sim, pois o troço virou um circo - para destinar o féretro à sua morada final. Ufa!

foi assim, na glória do senhor: amém, irmãos? (a resposta é amém, ok?)

domingo, outubro 21

primeiro aniversário do Guiga

De teus olhos nascem caminhos.
Um deles, eu escolhi.
Do seu sorriso nascem dias e horas e instantes da calma felicidade.
Tuas mãozinhas espalmadas seguro, me levas por tuas trilhas adentro.
Em tua presença renasço.
Renascem meus melhores quereres, minhas mais lindas canções, aquelas?, que nunca escreverei.
A cada sorriso teu, a cada som que nasce e ganha forma em sua ainda inédita voz cresce a essência que é a própria vida dentro de mim.
De tua luta continua brotam os meus mais sinceros motivos para querer merecer estar aqui, neste teu carinho, que me faz sentir novos cheiros, formas, cores, formas, palavras e sons.
Guilherme, de tua ternura e amor nascem promessas de novos dias, dias de verde intenso e de vento/brisa acariciando um rosto em paz.
Obrigado por deixar a minha existência mais leve.

sábado, outubro 20

Vai ter Cinema.

em tempo: pior que passar a noite dobrado entre duas cadeiras do Aeroporto Tom Jobim só mesmo o desespero de pensar na possibilidade de não poder dar um abraço de feliz aniversário no Guiga.

terça-feira, outubro 9

Isto é de um de um cara aqui de minas, o Zé Geraldo.

“Quando tudo tá perdido na vida, só quando tudo tá perdido na vida,
É que a gente descobre que na vida nunca tudo tá perdido"

domingo, outubro 7

I've seen it all

Bjork

I've seen it all, I have seen the trees,
I've seen the willow leaves dancing in the breeze
I've seen a man killed by his best friend,
And lives that were over before they were spent.
I've seen what I was - I know what I'll be
I've seen it all - there is no more to see!

You haven't seen elephants, kings or Peru!
I'm happy to say I had better to do
What about China? Have you seen the Great Wall?
All walls are great, if the roof doesn't fall!

And the man you will marry?
The home you will share?
To be honest, I really don't care...

You've never been to Niagara Falls?
I have seen water, its water, that's all...
The Eiffel Tower, the Empire State?
My pulse was as high on my very first date!
Your grandson's hand as he plays with your hair?
To be honest, I really don't care...

I've seen it all, I've seen the dark
I've seen the brightness in one little spark.
I've seen what I chose and I've seen what I need,
And that is enough, to want more would be greed.
I've seen what I was and I know what I'll be
I've seen it all - there is no more to see!

You've seen it all and all you have seen
You can always review on your own little screen
The light and the dark, the big and the small
Just keep in mind - you need no more at all
You've seen what you were and know what you'll be
You've seen it all - there is no more to see!

pode ouvir tb.

sábado, outubro 6

Dancer in the Dark: Bjork

Dancer in the Dark trailer


dois palitos.

Sinal vermelho. Fila de carros. Pedestres pra lá e pra cá. "Bom dia"! Um grito brota no cinza, espicha, dribla carros e o caos, invade pela fresta as janelas automobilísticas e parece contagiar alguns motoristas que, se não esboçam um sorriso, parecem se desplugar da correria do dia-a-dia ao verem uma bola verde caminhando pelo corpo de um palhaço. Primeiro na testa. Depois na bochecha. Escorrega pelas mãos e pára. Está no peito do rapaz. É bem verdade que está para nascer o motorista que goste de um engarrafamento daqueles, em plena quinta-feira, 12h, de sol a pino e ardendo na pele e sinal fechado, não é? Bem, os motoristas que descem a rua Gonçalves Dias e cortam a Bias Fortes rumo à praça da Assembléia, logo a baixo do cinema Belas Artes, aqui em BH, também não morrem de amores pelo trânsito intenso. Mas, com certeza, os minutos neste sinal voam.
O dono da frase é o palhaço Merrel, que ganha vida ali, numa espécie de escritório improvisado, no meio da rua, ou melhor, na faixa de pedestres. Merrel vive dos malabares. Ele e sua esposa, Ingridi. O cara sabe o tempo correto dos sinais, o nome dos garis que trabalham na região, já trabalhou em circo e rodou o País fazendo a sua arte.

Sinal Amarelo. Merrel faz a última loucura com sua esfera colorida. Agradece. Estica o pescoço. Apóia uma das mãos à testa, fazendo sombra aos olhos arregalados, e sai entre os carros. Quem sabe ganha um trocado. Na verdade, qualquer coisa vale. Até cesta básica ele diz já ter ganhado no sinal. Mas pagamento de verdade para ele é a afinidade que acaba criando com as pessoas que passam por lá todos os dias.

Sinal verde. Com um sorriso no rosto e ainda com a bola inquieta
nas mãos, ele vem para um bate-papo rápido; dois palitos. Um lá e outro cá. "Minha esposa, Ingridi, também trabalha comigo. Hoje ela não veio, pois fez uma tatuagem recentemente e não é bom ficar no sol, né?", responde. Há quatro anos ele pratica malabares. No início ele apenas produzia os objetos, depois descobriu que tinha jeito para coisa e também resolveu tentar a sorte nos sinais. "Acaba que as pessoas nos vêem aqui e nos chamam para fazer eventos, festas de aniversários e shows", conta o inquieto palhaço.

Enquanto Merrel monta em um monociclo e sai pedalando como bêbado,
Alvinho chega para participar da conversa também. É mais um que ganha a vida nas ruas com alegria. Pai de Gabriel, de 2 anos, Alvinho, que é ex-metalúrgico, conta que gosta do que faz. "Não largo isso aqui por nada", afirma. O cara é quase um circo ambulante. No dia da entrevista, ele manuseava no sinal um Diabolô, mas não pára por aí, ele tem habilidade com outros objetos circenses como o Devilstik, Aro Clave, e por ai vai. "Mano, faço até Ilusionismo", vai dizendo com um sorriso no rosto e os olhos atentos à sinaleira.

Uma espiada no relógio e quem chega com Merrel é Martin, o hermano uruguaio. Ele já chega mandando um "como no!" e, entre risos e outras palavras próprias de seu portuñol, nos cumprimenta e dá um abraço em Alvinho. Há um ano ele não aparece no Uruguai. Há cinco saiu de seu país e ganhou o mundo. "Yo vim do Rio de Janeiro ontem y...". Uma buzina interrompe a frase. "Caralho! Presta atenção!", uma mulher grita de dentro de um carro importando. Martin solta uma gargalhada e diz: "Mi gusta mucho las mujeres bravas! Ellas tienen personalidad".



Sinal Vermelho. Não há
mais tempo. A conversa pára. E eles voltam para o sinal. Sigo meu caminho para a redação que está logo ali, na Álvares Cabral.


As fotos são de um cara que veio lá do Oriente Médio, o Sam.
Ele quebrou essa pra mim. Hoje o Sam e sua esposa estão em Londres, às vezes mandam notícias.

sexta-feira, outubro 5

noites brancas III

no vale velho, esquecido
se vai um flautista distraído,
o flautista também é surdo
e vaga sem se dar conta
que assopra um simples canudo.
sem furo, música ou ponta.

noites brancas II

domingo

o rei acordou contente e suspendeu a cobrança dos impostos.

segunda-feira

Mais um dia de suspensão.

Teve festa. Durou a noite toda.

terça-feira

Ressaca do rei.

Dor de cabeça insana.

É ordenada a retomada das cobranças dos impostos.

quarta-feira

O povo, deprimidos servos, vai ter com o rei.


Reivindicação:

todos querem uma possível nova trégua.

Argumento:

a decisão real foi tomada contra o povo e provocada pela ressaca do rei.


Revolta

Quinta

Morre o dono da vinícola.

Assassinato.

Sexta-feira

Morre a rainha.

Suicídio.

Sábado

Dia riscado do calendário.

noites brancas I


era imenso e belo,
cheio de flores e meninos;
eu era menino,
mas, sem sorriso de menino.

acontece que, cresci e pensei,
arrependo-me ainda disso.
quando era menino, crescer
significava infinitas possibilidades,
hoje uma impossibilidade
já não deixa valer a pena, voltar.

um dia eu tive um martelo e pregos,
bati prego e dedo no seu caule,
a dor que senti foi a do dedo,
mas, fez-me pensar na sua dor.
eu só tinha sete anos e,
chorando com o dedo torno,
pedi desculpas e lhe abracei,
mentira, talvez o fizesse hoje.
e se alguém visse?

peço desculpas de longe,
naquele tempo nem isso fiz.
eu era inocente demais para ver culpa,
agora, sou culpado demais para lhe abraçar.

você já não é tão imenso, continua belo, eu não sou e não existe, menino menino sem o seu fruto, a doçura de menino vem de ti.