quarta-feira, maio 27

domingo, maio 24

na verdade estar aqui e ser assim,
afeito ao que é amargo e às promessas possíveis
e ainda assim intangíveis de amor,
é simplesmente a vontade
de se estar à altura desse momento único,
recortado no tempo,
que chamam de vida.

domingo, maio 17

morada da dama de rapina, cortina de rocha que me adorna e me acovarda a alma, durma no silêncio, atlântica-cerradeira, embalada nas rochas e sob o olhar da deusa natureza. petrifique este amor que, ora adormecido, hoje se nega ao olvido -
feridas banhadas pelo malte destilado, aquelas que me calam a alma.
morada da dama de rapina, banha-me em suas águas, fruto de suas chagas, unja meu sorriso, me faz homem sem destino.
morada da dama de rapina, cortina de rocha lisa, alise com sua sombra a minha face vincada de sobrancelhas grossas e pupilas negras.
morada da dama de rapina, berço das minhas alegrias, dos meus melhores dias, me cure de mais este dia.

terça-feira, maio 12

eu não estou inspirada neste momento e o gosto de cigarro e de cerveja em minha boca, mais a frustração de estar sem sexo me impedem de pensar em qualquer coisa que não seja um banho quente e em meus lençois finos.

aqueles novos, que eu comprei?

não, me apetessem mais os velhos e surrados que carregam minhas memórias, minhas dores e meus sorrisos (bem, esquece esta coisa de sorriso, não seria esta a palavra correta para esse mover de lábios em sosláio). me passe um cigarro?

sim, mas coloque uma música, é preciso ter som nisso tudo.

e eu apenas queria um texto em quatro mãos? para o resto... eu preciso comer mais feijão. não ria das minhas preocupações tão chocolate, são apenas essas coisas que fazem do universo masculino lugar comum que qualquer camiseta regata resolve, entende? por isso talvez eu seja menos afeito a elas. sou mais o rosa, o andar com cuidado, como caminhar em nuvens...

quinta-feira, maio 7




Eu tive um sonho
Que eu estava certo dia
Num congresso mundial
Discutindo economia

Argumentava
Em favor de mais trabalho
Mais emprego, mais esforço
Mais controle, mais-valia

Falei de pólos
Industriais, de energia
Demonstrei de mil maneiras
Como que um país crescia

E me bati
Pela pujança econômica
Baseada na tônica
Da tecnologia

Apresentei
Estatísticas e gráficos
Demonstrando os maléficos
Efeitos da teoria

Principalmente
A do lazer, do descanso
Da ampliação do espaço
Cultural da poesia

Disse por fim
Para todos os presentes
Que um país só vai pra frente
Se trabalhar todo dia

Estava certo
De que tudo o que eu dizia
Representava a verdade
Pra todo mundo que ouvia

Foi quando um velho
Levantou-se da cadeira
E saiu assoviando
Uma triste melodia

Que parecia
Um prelúdio bachiano
Um frevo pernambucano
Um choro do Pixinguinha

E no salão
Todas as bocas sorriram
Todos os olhos me olharam
Todos os homens saíram

Um por um
Um por um
Um por um
Um por um

Fiquei ali
Naquele salão vazio
De repente senti frio
Reparei: estava nu

Me despertei
Assustado e ainda tonto
Me levantei e fui de pronto
Pra calçada ver o céu azul

Os estudantes
E operários que passavam
Davam risada e gritavam:
"Viva o índio do Xingu!

"Viva o índio do Xingu!
Viva o índio do Xingu!
Viva o índio do Xingu!
Viva o índio do Xingu!"

letra: Gilberto Gil - Um Sonho
imagem: Roberto Jayme/Reuters (ele vai me perdoar
pela distorção da imagem, era preciso)