quarta-feira, março 28

Léo e Bia

No centro de um planalto vazio
Como se fosse em qualquer lugar
Como se a vida fosse um perigo
Como se houvesse faca no ar
Como se fosse urgente e preciso
Como é preciso desabafar
Qualquer maneira de amar valia
E léo e bia souberam amar
Como se não fosse tão longe
Brasília de Belém do Pará
Como castelos nascem dos sonhos
Pra no real achar seu lugar
Como se faz com todo cuidado
A pipa que precisa voar
Cuidar de amor exige mestria
E léo e bia souberam amar


Oswaldo Montenegro

sábado, março 24

A temporada de flores ainda não acabou

E aí, no meio de uma tarde de outono, quente e de recordações, ela vem e diz do seu primeiro emprego e que escreveu seu primeiro poema concreto. Eu, “titio” besta que sou, fico todo cheio e peço para ver logo. Então, ela me estende as mãos, aquelas mesmas que vi ainda pequenas, e deixa a brisa escapar por entre os dedos em plena tarde de sábado.

(primeiro poema concreto da Clarinha.
Livre de qualquer medida de tempo e de densidade.)

Acabaram as palavras que poderiam expressar o q sinto.
Só sei q amo.... e é um vicio ...
E me perco... e me encontro...
E a cada dia quer mais
E cada dia mais odeia
Mas sempre amo....
Amooooooo
Amooooo
Amoo
Amo
Am
A

quarta-feira, março 21

Perco-me da vida a cada instante.

Instantes da vida me perdem.

A cada vida perco um instante.

Depois me desfaço, desvelo

então

Me é brotado o mesmo instante.


A atiradeira está chegando!

Não percam!
Dá prazer por que não é didentro de você.

Se fosse, seria obrigado a se acostumar com tudo que é cinza e molhado, singular e perene e dor.
Tudo que
não
é
cân
tico
de
lou

vor.

domingo, março 18

Que a mulher que eu amo seja sempre amada e feliz e que tenha filhos mais bonitos e espertos dos que eu poderia dar. Que eles nasçam em berços nobre, como um beijo que se multiplica em uma noite de 06 de janeiro.
Que longe disso tudo que sou esteja sempre perto da felicidade e seja leve e livre e calma. Que um dia ela tenha em intensidade maior este amor que adubo por ela, ainda menos doente, mais prazeiroso, mais provido das partes boas do humano, que não posso dar, por ser um.
Que a mulher que eu amo seja sempre amor e carinho e livros para os seus, alento para os que ainda não nasceram, boca para os que ainda não falam e som para os que se calam diante das palavras inaudíveis.
Que a cada dia ela plante seus amores mais fundo, até que chegue o dia em que não terá mais de se preocupar com a estupidez humana.
Que a mulher que eu amo entenda que a outra metade não é má, apenas quer transpassar os muros que me impedem de te amar.
Que este dentro de mim seja mais camarada comigo mesmo e se permita viver, se permita receber a alegria e o amor que devoto ao meu amor.
Que a vontade de apagar as luzes e consumir-me em mim se transforme em um outro estar.
Que o tempo não pare simplesmente por mais este grito, que nem deveria gritar. Que estes inaudíveis soluços de dores concretas em mim, embalem o sono dos que se amam.
Pára grito!
Ele não pára. O tempo não pára apenas por que minha angústia me acovardou, mas que ela não seja recriminada por ser tão assim, tão mundana.
Que minha angústia nunca se levante de mim, pois vivo. Mesmo que a aurora ainda me seja proibida, mesmo perdido nas armadilhas empoeiradas da existência, que meus olhos de homem, do que ainda não sou, não calem a música do instante denso e do choro contido.

sábado, março 17

os laços se desmancham...
suave cetim em face lisa branca,
breve e mundo sorriso: brisa de pano!
choca por não ser você.
Pois, se fosse seria obrigado a se acostumar
tendo de lembrete de sua desgraça a dor, contínua e singular
que não é poesia.

segunda-feira, março 12

E meu desespero é minha sina. Viver com ele é estar em constante trabalho de parto. Me parto, alivio e nasce mais um. Tal qual o primeiro em intensidade e solidão. E assim, vou e vivo a vida, essa prisão. O que me liberta é o palhaço brigadeiro, o resto é desespero.

sábado, março 10

sexta-feira, março 9

Essa ciranda não é minha só

É de todos nós
A melodia principal quem tira
É a primeira voz

Pra se dançar ciranda
Juntamos mão com mão
Fazendo uma roda
Cantando essa canção

Composição: Capiba

Ando nas ruas do centro
Estou lembrando tempos
Enquanto lhe vejo caminhar

Aguando a calçada
Um barbeia um velho
Deita a noite e diz poesia (serenata)

Vinho enquanto ouve choro costurar
Passei em casa, seu Zé não estava
Memórias Senhor Brás Cubas Postumavam
Enquanto vi passar Helena pra casa de chá

Devagar, bonde na praça
Ainda borda delicadeza
Torna a gente
Banca de flores
Libertando sorrisos no ar

Vanessa da Mata.

Quero uma ciranda só pra mim. Sem óculos e dores de todas, inclusive de cabeça. Coisas triviais de uma sexta quente de março sem águas para findar o verão.

quinta-feira, março 8

Conduzir. Me ensina a ir para cá. Para além dessas coisas dores que vazam e calam e cegam um ser fora dos seus. Eu prometo saber que parar é questão de remédio dado por dono da dor e de olhos fechados empapuçados de tudo que é meu e faço dele o que quero. dos espaços em branco aos rabiscos noturnos, de tudo escuro, num mudo obtusoretórico de leis mudas.

Demos graças e ao senhor. Glórias a eLe que viu o iníciomeioefim e nos pôs neste deserto caduco de desilusões e criaturas humanas loucas para existir, sugar da existência sua última gota de gozo. Coma tudo. Se lambuze das vidas vadias e tolas que perambulam bêbadas por ai acreditando no que vê.

cinco minutos é o que resta para a porteira se abrir e soltar ao mundo os diabos acorrentados que se debatem contra as paredes do nada.

Num lance espetacular da natureza a madrugada morre e, paradoxalmente, traz a minha tão particular escuridão dos meus dias. Junto com ela vem um ódio do tanto quanto era do gozo mau feito que sou, farrapo rasgado de todo o resto desta porra de que chamam mundo. E não é por esse buraco que tenho e me consome, pois esse, o cara de branco disse que é do bem, o que me alarga didentro é outro deixado. Pudera eu ser levado dele, não para outros, mas para onde ele seja o meu fim, sem fim. No entanto, se isso for recomeço... eu não quero. Quero não voltar, andar pelas ruas, vê o mundo dá ânsia de vômito. Quem dera vomitar e por pra fora tudo aquilo que me incha a garganta.

dormir tb é uma ilusão.

Há meses que fazem chuva, semanas que fazem sol e dias e noites que tanto faz. É ai que cresce a vontade de se encantar e ir para perto de quem realmente nos ama.

porque palavras já não me dizem nada. o silêncio sim, é implacável.


Cobaias de deus

Se você quer saber como eu me sinto

Vá a um laboratório, ou labirinto

Seja atropelado pelo trem da morte

Vá ver as cobaias de deus

Andando na rua pedindo perdão

Vá a uma igreja qualquer

Pois lá se desfazem em sermão

Me sinto uma cobaia, uma rato enorme

Nas mãos de um deus mulher,

De um deus de saia

Cagando e andando

Vou ver o ET

Ouvir um cantor de blues

Em outra encarnação

Nós, as cobaias de deus,

Nós somos cobaias de deus

Nós somos as cobaias de deus

Me tire dessa jaula, irmã, não sou macaco

Desse hospital maquiavélico

Meu pai e minha mãe, eu estou com medo

Porque eles vão deixar a sorte me levar

Você vai me ajudar, traga a garrafa

Estou desmilingüido, cara de boi lavado

Trago uma corda, irmão, irmão me acorda!

Nós, as cobaias, vivemos muito sós

Por iss deus tem pena e nos põe na cadeia

E nos faz cantar, dentro de uma cadeia

E nos põe numa clinica e nos faz voar

Nós as cobaias de deus (desse deus minúsculo, podre.)

É uma das últimas do Cazuza e da Ângela Roro.

quarta-feira, março 7

Desculpem-me as mulheres (aliás, poucas são as pessoas que param por aqui. é melhor. evito mais explicações) que lêem este troço aqui. Mas há certas coisas suas que nós [homens] só podemos e temos o privilégio de sentir, quando vivemos diariamente com muitas de vocês - ao mesmo tempo (no meu caso, 18, fora as que atendo. o que faz essa cifra chegar na casa dos 20 e tal). Portanto, não nos queira mal ou nos condene por sermos tão desprovidos de certas vírgulas e cegos da alma.

Alguns instantes de silêncio...

Um som contido, como uma ânsia de vômito, vem do escritório acompanhado de gemidos e suspiros úmidos. A tensão toma conta de todos... até que uma mais corajosa entra na sala e o seguinte diálogo é travado sem melindres:

- O que foi? (diz assustada)

- É choro contido. Sabe quando você não quer chorar, mas a dor é mais forte e empurra o bolo que sobe aqui (pega na garganta) e quer achar uma saída? É isso. (conta enxugando as poucas lágrimas que teimam em trasbordar)

- Mas por quêPor que chora?

- Uma carta de amor. Recebi uma carta de amor tardia. Mas já passou. (suspira)

- Nossa!

- Ela veio tarde. (diz, examinando o pedaço de papel molhado, com grafia azul, em suas mãos).

- O ser humano é assim mesmo. (interrompe)

- É. Vou escrever um livro. O título vai ser: As dez coisas que uma Mulher deve fazer, depois de uma separação. A primeira delas é ir para academia e correr feito uma louca na esteira, depois de um destempero emocional, causado por uma carta de amor tardia.

silêncio...

ao chegar para trabalhar, abre o email pessoal e encotra isto (acompanhado de alguamas palavras de carinho):

Asas e Azares

Voar com a asa ferida?
Abram alas quando eu falo.
Que mais foi que fiz na vida?
Fiz, pequeno, quando o tempo
estava todo ao meu lado
e o que se chama passado,
passatempo, pesadelo,
só me existia nos livros.
Fiz, depois, dono de mim,
quando tive que escolher
entre um abismo, o começo,
e essa história sem fim.
Asa ferida, asa ferida,
meu espaço, meu herói.
A asa arde. Voar, isso não doi.

Paulo Leminsky

valeu Nayaróvisk, tb t amo. Isso acontece com os cidadãos comuns. rs
p.s.: tb gosto do Leminsky.

terça-feira, março 6

Da Girassol

15 Fevereiro, 2007

Em tuas mãos


Desencantada...
Desencontrada!...
Procuro, procuro-me!...

Encontro-me!...
Encontro-Te!... cumprida a viagem de circum-navegação no mar dos nossos sentidos.

(...)

Assim se me morrem as defesas...
Em tuas mãos...
no preciso momento em que emprenho de certezas.

Baixo armas no tapete da entrada...
entro dentro do teu corpo.
Deixo do lado de fora em mala fechada, selada...
todo e qualquer sentido de juízo...

- Este é o momento preciso!

Passaste a ser o meu jardim de girassóis,
lírios do campo e papoilas...

Faço o meu tempo cavalgar ao ritmo contrário aos dias em que registava desesperadamente o passar do tempo sem sentido

Refreio o passo!!!...

- Amo-te Sagradamente!
- Guardo religiosamente o teu sorriso.
(luz reserva, para os dias mais sombrios...)

Vivo agora o espaço intemporal em que o sol me sacia a pele e me devolve a luminosidade do coração.
Por tuas mãos...

Escrevo poemas nas linhas do teu corpo.
Declamo cada verso em cada uma das tuas veias.
São de palavras minhas as gotas de sangue de que te alimentas.

- NASCE EM MIM A LUZ DE QUE ÉS A SEMENTE!...
- E entrego-me, EM TUAS MÃOS.

posted by girassol at 2/15/2007 06:53:00 PM
Só me convenci de que ela falava a verdade quando tentei praticar com Taiwo uma brincadeira que fazíamos desde muito novas, nem sei quando. Qualquer uma de nós podia fechar os olhos e pensar um pensamento, qualquer um, e deixá-lo pela metade para que ele fosse completado pela outra. Ficávamos horas neste jogo silencioso, como se tivéssemos o poder de entrar no pensamento da outra e saber para onde ele estava indo. Eu queria saber o que ela pensava sobre a vida que levaríamos no estrangeiro, se seriamos presentes ou carneiros, mas não tive resposta. Senti que a ela já não estava mais didentro de mim, como se ela tivesse fechados os olhos naquelas horas em que, olhando por sobre os olhos de nossa mãe, que dançava, eu conseguia me ver dentro dos olhos dela. Eu tentava sair de mim e não encontrava mais onde ir, tentava encontrá-la e não conseguia. Ela já estava fora do meu alcance.
...
Entendi que era hora de nos despedirmos
...
Me disseram para que eu não ficasse triste, pois ela estava alegre por partir para encontrar com pessoas que gostavam dela... Eu a apertei com mais força para que a alma dela ficasse comigo...

defeito de cor - Ana Maria Gonçalves (trecho)
Vontade de ser vento
De ter tempo
De vagar lento
De sorrir do tempo
Enquanto ainda há.

o câncer, a obesidade, o peso no peito, a morte e tudo. tudo é ilusão.

sexta-feira, março 2

Nos últimos dias ele tinha se dedicado a enfrentar labirintos para encontrá-la. E assim, se transformou em despojamento da razão, esfarelou a loucura da paixão. Na verdade não sabe mais o que fez. Uns dizem que ele buscou a serenidade dos dois seres para serem um. Busca vã.

porque é mais fácil passar a mão na cabeça do favelado e dizer que o som é gostosinho. falar sobre causa, origem e contexto das coisas... é coisa que não convém. e aqui começa o grande engano e princípio de todas os medos. é o silêncio cúmplice da omissão das palavras que calam quando poderiam dar a solução, que condenam o estereotipo às coisas do correr dos dias, tão normal. Então, qualquer intento de livre pensamento, que busca quebrar os grilhões sociais soldados e moldados anos a fio, soa como um falseamento de identidade, pior; é visto como uma negação do que é. é como se Jean-Michel Basquiat não pudesse traçar as linhas de Mona Lisa, é como se aquele negrinho gorducho, de cabelos encaracolados (que aliás, é bom de bola e prefere Basquiat a Tarsila) não pudesse se tornar um Rembrandt Harmenszoon van Rijn, isso não seria possível, pois o negro tem de gostar de ser jogador de futebol, mulata no carnaval ou desempenhar outros papéis que a sociedade estabelece para ele. Só meus caros, que, da ponte pra lá, ninguém sabe o que ou quer saber o que acontece (como diria a música). É a vida imitando a arte televisiva que sempre enquadrou negros, nordestinos, gays e outras minorias dentro de padrões.

quinta-feira, março 1

Conversa entre os dentes

Não. Sinto muito, mas não posso aceitar fazer parte disto aqui. Me recuso, terminantemente. Me incluir nisto aqui é desprezar tudo aquilo que vivemos, os bons e os maus momentos. Aliás, que sempre foram entrecortados de sorrisos e cumplicidade. Como pode pensar em fazer isso comigo? Os nossos encontros são, inevitavelmente, instantes prenhes de felicidade, de paz e amor. Ou mentem para mim o ritmo perene de sua pulsação, o brilho calmo de seu olhar e esse sorriso branco que se abre quando estamos juntos? Mas mãe? Já disse, não quero saber, não tem “mãe” e nem “mas mãe”, essa palavra nunca, mas nunca fará sentido quando se trata disso que somos. Eu. Não adiantam essas suas justificativas. Te conheço, você sempre me levou na gaita. Lembra quando chegava cantarolando na cozinha e me corrompia com beijos e afagos, até eu ceder e deixá-lo surrupiar uma batata frita ou bolinho qualquer ou uma prova dos cozidos? Você não mudou nada, menino. Mas mãe, quando vi este tema, só pensei em dizer para esse povo que eu acho que ausência não tem a ver com falta ou lacuna, e sim com o desistir de amar.

da ausência

O perene rio de verbo secou.
Num quarto branco de paredes sufocantes
Devaneio de amor plantou
E da colheita que encheu almas,
Como da flor do campo de cores cortantes,
Só o perfume da noite esbranquiçada pelas estrelas sobrou.

Do encher que se esvai, não queria mais.
- Para quê? O céu continua azul.
A imensa massa de firmamento
Só não é tanta de sentimento
De tanto ser transbordou
E nem acalanto torpe brotou

Na embriagues do doce momento
Tinha se despido do tanto que é.
Do que sobrou fez-se mais um vagante.
Desde então, se alimenta de lágrimas
Das outras que nascem sem afluentes e caem eternamente
Em rodopios, no vácuo de tudo o que nunca existiu.

Vagar pelo mundo, por acolá, era o que fazia.
Trombando, empurrando pedras e flores,
Arrumou modo de enfrentar dores.
Parava aqui, tomava cores, logo ali, risos e amores.
E assim,
do vazio que trazia
cimento para os cavos da vida fez.

Monica, esse negócio de amigo e amor funciona assim; se vc chegar a falar um dia que já teve um grande e inesquecível amor ou um amigo inseparável, vixi!, pode esquecer, não era nem uma coisa nem outra. Os sentimentos verdadeiros nascem de coisas pequenas. Devolvo a lista. Encontramos-nos por aí e sempre,
nos bares, na vida.
Negão da Monica.

A Lista

Oswaldo Montenegro

Faça uma lista de grandes amigos

Quem você mais via há dez anos atrás

Quantos você ainda vê todo dia

Quantos você já não encontra mais

Faça uma lista dos sonhos que tinha

Quantos você desistiu de sonhar

Quantos amores jurados pra sempre

Quantos você conseguiu preservar

Onde você ainda se reconhece

Na foto passada ou no espelho de agora

Hoje é do jeito que achou que seria?

Quantos amigos você jogou fora

Quantos mistérios que você sondava

Quantos você conseguiu entender?

Quantos defeitos sanados com o tempo

Eram o melhor que havia em você

Quantas mentiras você condenava

Quantas você teve que cometer



Quantas canções que você não cantava

Hoje assobia pra sobreviver

Quantos segredos que você guardava

Hoje são bobos ninguém quer saber

Quantas pessoas que você amava

Hoje acredita que amam você.