quinta-feira, julho 26

domingo, julho 22

§ outro dia uma amiga me perguntou se era o fim ou não deste blog. bem, nem me lembro direito da resposta que dei a ela, pois quem sou eu para dar a certeza sobre o destino das coisas tangíveis? ninguém, nada. ainda mais a um pedaço virtual onde muitos depositam coisas intangíveis e - muitas das vezes - infinitamente lindas e de grande utilidade, como estudos e trechos de livros. eu? apenas me estou aqui e agora. como me prostrei aqui nesta cadeira para ler os imeios e alguns sítios, que me tocam, e uns autores, que me dizem, e uns (poucos) blogs (claro, apenas aqueles que realmente não devem se acabar nunca, pois são bons. e aí agradeço à tecnologia que inventou isto aqui, permitindo que os como eu leiam lindas cartas e memórias - viu Camila, há este lado benéfico da coisa - que antes ficariam confinadas entre quatro bordas de papéis amareladas e, talvez, comidas por traças e mudas aos outros, como eu.) até que cheguei neste depósito de letras aqui. para tirar a poeira destes cantos aqui, resolvi postar algumas linhas, mas... postar o? não sei. é época de terras secas, caducas, apesar das constantes chuvas.

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§ para não deixar de todo certo o abandono disso aqui, ai segue uma entrevista que fiz com o MV Bill para revista Idéias. quem cedeu as fotos foi o Nino, produtor do Bill. apesar da correria para fazer o material e da dificuldade para falar com o homem, devido aos compromissos que ele teve naquela semana, consegui abrir e fechar a entrevista às 13horas de um domingo qualquer.

§Estamos juntos e misturados!


§ Edifício Maleta, centro de BH, 19h 30min de uma segunda-feira quer qual seja. O celular toca. Interrompe a trajetória do copo lagoinha. Digo um “alô”. Do outro lado linha, a jornalista Marcela Siqueira manda com a simpatia de sempre: “Cara, onde cê tá? amanhã cedo temos uma reunião de pauta lá no bairro Sion. Às oito e meia passo pra te pegar, ok?”. Respondo um “sem problemas” e nos despedimos. Antes de pousar na mesa do boteco, o copo suado fica livre para atingir o seu objetivo e matar a minha cede.

§ Umas 15horas separaram aquele momento no bar da sala de reuniões, onde um nome quebra o frio condicionado e o silêncio angustiante do local e encontra aprovação no sorriso da Marcela e nos olhos contentes da publicitária Angela Corinto. Tínhamos acabado de encontrar quem seria o entrevistado do primeiro número da Revista Idéas. O tal nome? Bill. Então convidamos MV Bill (Mensageiro da Verdade) para o primeiro bate-papo da publicação.

§ O cara é uma verdadeira metralhadora giratória de idéias que só dá pausa para recarregar o cartucho e focar outro alvo. Estar na mira dele, no entanto, é privilégio para poucos, e desejos de muitos. Também pudera. Bill, que nasceu na Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, é reverenciado por gente do calibre do cineasta e escritor Joel Zito de Araújo, autor de “Filhas do Vento” e “A Negação do Brasil”. Ele está no time dos mais brilhantes pensadores das periferias do País. Seus trabalhos, como “Falcão – Meninos do Tráfico”, “Falcão - O Bagulho é Doido” e “Cabeça de Porco”, tiram das sombras e lançam ao debate a realidade dos que estão à margem da sociedade, nas vilas e nos morros. Mostram uma verdade que a maioria dos brasileiros não conhece ou finge desconhecer.

§ O trabalho do homem é chapa quente e virou referência internacional. Instituições como a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Unicef já reconheceram a importância das iniciativas de Bill. Recentemente, “Falcão – Meninos do Tráfico”, foi premiado na Espanha, com o Troféu “Rei da Espanha”, na categoria TV. Só para se ter uma idéia, esse prêmio é um dos maiores dentro do jornalismo internacional.

§ Foi com a música, com o rap, que Bill deu os primeiros passos em seu trabalho. Hoje, por meio da Cufa - Central única das Favelas - ele e sua equipe atacam em várias frentes: esportes, audiovisual e até artes cênicas. “Costumo dizer que somos um hospício. Um bando de loucos sem camisa de força”, definiu ele em entrevista à revista Caros Amigos.

§ Humano que é, Bill também tem lá suas esquisitices. Prova disso é que tem muita gente por aí pagando caro pra saber seu verdadeiro nome, segredo que ele não revela. É conhecido somente como MV Bill ou pelo pseudônimo, Alex Pereira Barbosa. Vá entender!

§ Bem, como já deu para perceber, os cartuchos de Bill são intermináveis e a agenda está sempre lotada. Portanto, pegar o homem para uma conversa foi uma verdadeira batalha, que até a última hora do fechamento da revista não havia terminado. E, aos 45 minutos do segundo tempo, em pleno domingão na hora do almoço, conseguimos “bater uma bola” rápida com o ele, no intervalo entre um compromisso e outro. O bate-papo foi curto, mas dá pra ter uma noção das idéias de um dos ícones do pensamento da periferia brasileira.

§ Revista Idéias: Alô? Bill?

§ MV Bill:
Sim. Ô mano, desculpa aí pela demora em atender vocês. É que estava numa correria só.


§ RI:
Tem nada não. Estávamos na sua cola desde o início da semana passada. Podemos começar?

§ MB:
Manda aí.

§
RI:
Bill fala um pouco sobre sua infância?

§ MB: Foi uma infância padrão. Estudar até onde a vida permitia. Conciliar “trampo” e estudo vislumbrando um mundo diferente do meu, coisa que nunca ia acontecer.

§ RI: Você nasceu na Cidade de Deus, quando você tomou consciência de que era hora de mudar aquela realidade?

§ MB: Olha, tive essa consciência muito cedo, antes mesmo do hip hop. Mas só foi através dele que a coisa se deu, até mesmo no afinamento do discurso. O hip hop foi um divisor de águas.

§ RI: Você considera o hip hop um agente de transformação da realidade da periferia?

§ MB: No início, sim. Mas devido à complexidade das coisas, acho devemos usar outros tipos de linguagens, como o vídeo e a literatura, algo que é até estranho para as pessosa da comunidade.

§ RI: Qual a maior carência das periferias?
§ MB: A periferia não tem apenas uma. Ela é um bolsão de carência.

§ RI: O Estado ainda é muito distante dos morros?

§ MB: Sim. No Falcão mostramos que essa distância causa uma visão errada da periferia. O objetivo da Cufa (Central Única das Favelas) é justamente agir para intermediar a relação entre o poder público e a favela. A violência que vivemos, com certeza, é reflexo da dessa ausência. O que queremos mostrar é que o importante não é apontar os culpados, mas sim, as soluções.

§ RI: Polícia do exército nas ruas traz segurança, Bill?
§ MB: Cara, acho que trazer, traz, para toda a sociedade. Não importa se você está no asfalto ou na favela. Só que é uma segurança aparente, pois o Exército não vai ficar na rua o tempo todo, uma hora os caras vão sair. E aí? A solução para o problema é mudar a maneira de enxergar, de tratar o outro.

§ RI: Qual o papel do jovem para mudar esse contexto?

§ MB:Eles são a oportunidade de mudança disso tudo. Mas alienado do jeito que parte da juventude está, acho difícil que mude alguma coisa

§ RI: Tem algum novo projeto no saindo do forno?

§ MB: Eu e o Celso Athayde agora estamos trabalhando no “Falcão – Mulheres”. Como o “Falcão - Meninos do Tráfico”, também vai abordar os problemas que afetam os habitantes das periferias. Mas, agora, vamos focar nas Mulheres.



...


uma hora posto o resto do material. cof. cof. foi só para bater a poeira.

sexta-feira, julho 13

PRELÚDIO - No entanto (até no-entanto dizia agora) estava ali e era assim que se movia. Era dentro disso que precisava mover-se sob o risco de. Não sobreviver, por exemplo – e queria? Enumerava frases como é-assim-que-as-coisas-são ou que-se-há-de-fazer-que-se-há-de-fazer ou apenas mas-afinal-que-importa. E a cada dia ampliava-se aquele gosto de morangos mofando, verde doentio guardado no fundo escuro de alguma gaveta.

Morangos Mofados (trecho), de Caio Fernando Abreu
Sem querer foi me dando um desespero
De te amar feito louco de corpo a dentro
Mendigando o teu beijo a todo momento
Fazendo de mim mesmo um só tormento
Como a lua que brilha no firmamento
Como o sol que aquece o meu caminho
Como a noite que chora do meu lamento
Sou mais um que desperta longe do ninho
Meu caminho e deserto e tenebroso
Meu cavalo alazão só me faz carinho
Quando eu durmo me perco no pensamento
Ele fica chorando um só tormento.



P. Pedra Azul

quinta-feira, julho 5

Aproveito a batida do cursor que finca e picareta a folha em branco e entro pela fresta do buraco ainda raso das sensações que me acompanham e me lanço em vácuos do papel em pranto. Me arrasto pelas fendas, abro espaço. Num espaço livre, liberto das amarras do real contemporâneo que do cotidiano vivo no emaranhado as tranças dos cadarços, me vou. Livro-me das cordas nos pés e agora eu me lanço em um mundo sem cadarço. O ar assopra a sola de meus pés, me acolhe e me leva nas mãos estendidas. Os lugares que visito me doem, me vagam, me chamam, me constroem, me desmontam, me desvelam e me fazem me, filho de dona Maria, livre das coisas coisas que todos sentem comummente tanto na noite e quanto no dia. Livre dos cadarços me solto, desprendem de mim rins, pulmões, intestinos, sem mais avisos me desatino na tentativa vã de recolhê-los cada um em minhas mãos. Caco por caco. Os instantes me somem. Os fragmentos são fremes sem fragrâncias flagrantes de um dia distante. O olhar oblíquo e a voz desjuntada formam um lindo casal que se vai ao desencontro natural pelas estradas. Livres. Sim. Livres de outras sensações ensaiadas se vão. Apenas se. O coração bate num ritmo azul, o tempo ganha uma velocidade quase imperceptível eu tenho em mim agora o tremor e não sei se vou conseguir tocar de novo nestas sensações, o fim da cava branca do papel é breve. Retorno. A folha agora sangra. Quero ir além e nas manchas rubras tropeço. Os sapatos estão em firmes laços em meus pés. Mas o corregozinho me perturba. Paro diante dele. O porquê?, não me pergunta. Não tenho certeza, nem a de não ter. Nada. O mesmo que me corrói e pára na garganta branca dona do cursor que sangra a chapa banca com marcas de cortes para faca da gráfica rápida ou não, pois me fiz livre das medidas do tempo.