sexta-feira, junho 27

primeira noite: apagou a luz, deitou-se e continuou olhando em direção ao teto.

(ouvia apenas a chuva cair sobre a soleira da casa ainda vazia.
a água adubou o telhado por sete noites seguidas.)

oitava noite: viu - sem espanto - brotar do teto umedecido um pé-de-estrelas.



domingo, junho 22

Depois de três meses em silêncio, *Marcela sorriu. Que assim continue. É bom ver o sorriso de Marcela "escapulir" pela fresta do cantinho do rosto e tomar conta da sala, inundando tudo com um som ainda inédito aos meus ouvidos. É bom ver seu sorriso crescer, siga sorrindo pela vida.


*Marcela é um nome fictício para M.. Com cinco anos de idade, há dois, ela luta contra um tipo de câncer raro. Tive o prazer de conchê-la numa dessas tentativas de retomar a ordem natural das coisas.

domingo, junho 15

é a melhor de todas as definições:

"Saudade é ser, depois de ter." (G. Rosa)

a vida toda em uma só madrugada. fria madrugada.

pupilas dilatadas.
um deserto na boca.

o instante tinha cinco letras.

sexta-feira, junho 6

ela, ele e a filha da costureira

O dia estava belo, com pássaros cantantes, libélulas esfuziantes e um cheiro de mato verde de dar água na boca das vaquinhas leiteiras. Mas, por sob a mangueira, a garota (antes faceira), se desmanchava em lágrimas doces que, caídas ao pé da roseira, alimentava os botões vermelhos - símbolo do amor maior de seu amado pela filha, já moça, da costureira.