segunda-feira, dezembro 8
Intransitivo
Eu não estava lá. Mas me contaram que o silêncio cortante durou três corridas até a marca do pênalti…
- Obrigada pela companhia durante a noite. A voz doce e o leve sorriso nos lábios são marcas de Maria. Faz tudo ser brisa.
Pensou interrogações, elaborou travessões e até pensou em evocar aspas da curta algibeira, mas resolveu apenas pontuar (pois não havia mais sol no quintal):
- O elevador. O elevador chegou. Sorriu - educadamente.
- Sim. Beijo!
- Beijo.
Só depois de ouvir o ruído do elevador descendo à portaria – ainda da fresta da porta, de onde tingia de outros tons a cena - que Maria Céu percebeu: o seu roupão azul pouco combinava com as tatuagens espalhadas pelo corpo e com os cabelos curtos cuidadosamente desajeitados que tanto diziam sobre aquela mulher.
- Nossa. Exclamou, depois de fechar a porta e se deter frente ao grande espelho da sala e perceber que a sombra também azul ainda dava contornos aos olhos castanhos.
Digitando...
eu sei que resistir à voracidade da vida é inútil.
ela vem...
letra, palavra e silêncio.
tão normal.
como se a possibilidade de um próximo sorriso não existisse mais.
ignora a pequenez de meu casulo, descarrega uma pá generosa de intensidade.
[te-cla-res, toques e olhares,
dedos e caminhares,
tudo que é teu.
de-cla-res, gusa vertido no mar,
tudo que é teu.]
não importa as convenções malditas da noite.
violenta a vontade de chuvas torrenciais.
ordena o caos envolto em uma cortina boreal.
....
como a paixão,
sei que é apenas um vendaval.
passa.
traz seus destemperos.
me larga.
assim.
[como encontrou]
sei que todo brilho na face é farsa,
mas acredito.
sigo entorpecido,
- como o sol deita na relva -
aceito agradecido
fugaz eternidade
recortes esverdeados de paz.
[bem-acabados].
eu sei que resistir à voracidade da vida é inútil.
ela vem...
letra, palavra,
em silêncio.
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