terça-feira, fevereiro 6

O barulho da rede balançando de um lado para o outro cortava aquela tarde quente e seca de fevereiro. Era sexta gorda e, para ele, a quarta de cinzas já estava começando, diferente dos outros anos, dessa vez, não havia livros antigos nem discos de vinis antigos e fitas k-7 emprestadas para embalar as noites quentes de carnaval no quarto velho e branco.

Sua alma experimentava um novo sabor. O descompasso do coração indicava que algo não era mais o mesmo. Os sons, as imagens, os sorrisos, tudo era contemplado de uma perspectiva que não era mais apenas uma. As mãos suadas e a angústia que surgia ao sol posto eram sintomas estranhos a ele, que respirava pela primeira vez aquelas coisas.

Deitado na rede com pensamentos litorâneos e com as poucas nuvens do céu, que era azul como nunca, nos olhos, navegava num rio de si, distante, belo, calmo e caudaloso, de águas brancas que transbordavam pelos olhos negros. Sem ter mais.

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