sexta-feira, setembro 4

O dia amanheceu claro. O céu borrado de azul parecia denunciar um motim orquestrado pelo verão que teimava não ceder lugar às folhas secas do outono. O cheiro de café fresco e quente aquecia e estimulava o olfato, dominando o perfume de eucalipto ainda molhado pela chuva que venceu a madrugada e que, de joelhos, pediu bênçãos ao primeiro raiar daquela manhã. Sim. Eram 6 horas da manhã. Lembro porque, no rádio de válvulas, o terço era cantado. Cantado por pessoas simples, de olhar temente e mãos marcadas por vincos que se confundiam com as valas onde semeavam cafés. Sim, eu vi. Eu estava lá, sentado à sala, em frente à porta aberta, ao azul no céu e, no mesmo instante, sentia as mãos das donas daquelas vozes femininas que entoavam o padre nosso e uma salve rainha me acariciando a fronte, como quem diz: “siga. A vida é feita da falta também. E nem por isso ela deixa de ter cheiro de café fresco, passado na hora.”

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