quinta-feira, julho 5

Aproveito a batida do cursor que finca e picareta a folha em branco e entro pela fresta do buraco ainda raso das sensações que me acompanham e me lanço em vácuos do papel em pranto. Me arrasto pelas fendas, abro espaço. Num espaço livre, liberto das amarras do real contemporâneo que do cotidiano vivo no emaranhado as tranças dos cadarços, me vou. Livro-me das cordas nos pés e agora eu me lanço em um mundo sem cadarço. O ar assopra a sola de meus pés, me acolhe e me leva nas mãos estendidas. Os lugares que visito me doem, me vagam, me chamam, me constroem, me desmontam, me desvelam e me fazem me, filho de dona Maria, livre das coisas coisas que todos sentem comummente tanto na noite e quanto no dia. Livre dos cadarços me solto, desprendem de mim rins, pulmões, intestinos, sem mais avisos me desatino na tentativa vã de recolhê-los cada um em minhas mãos. Caco por caco. Os instantes me somem. Os fragmentos são fremes sem fragrâncias flagrantes de um dia distante. O olhar oblíquo e a voz desjuntada formam um lindo casal que se vai ao desencontro natural pelas estradas. Livres. Sim. Livres de outras sensações ensaiadas se vão. Apenas se. O coração bate num ritmo azul, o tempo ganha uma velocidade quase imperceptível eu tenho em mim agora o tremor e não sei se vou conseguir tocar de novo nestas sensações, o fim da cava branca do papel é breve. Retorno. A folha agora sangra. Quero ir além e nas manchas rubras tropeço. Os sapatos estão em firmes laços em meus pés. Mas o corregozinho me perturba. Paro diante dele. O porquê?, não me pergunta. Não tenho certeza, nem a de não ter. Nada. O mesmo que me corrói e pára na garganta branca dona do cursor que sangra a chapa banca com marcas de cortes para faca da gráfica rápida ou não, pois me fiz livre das medidas do tempo.

Nenhum comentário: