segunda-feira, agosto 6

mexendo os ombros, balançando a cabeça

o dia amanheceu especialmente lindo naquele dia. os pássaros cantavam. o som das folhas secas rolando pelo chão de cimento envolvidas pelo vento de agosto invadia o quarto e completavam a melodia que joão assoviava enquanto arrumava os materiais escolares na capanga velha e surrada. foi quando a mãe entrou no quarto e, de olhos arregalados, deu bom dia ao menino e perguntou se estava tudo bem. sim. respondeu ele, com um sorriso – o que era comum – nos lábios. sapatos aos pés, cabelos molhados e espichados e uniforme bem assentado no corpo franzino, jota, como era chamado pelos amigos do futebol, se prostrou frente a porta do carro, parecia ansioso para ver os colegas da escola. e está não é só minha, a mãe também nutri está dúvida. aliás, respostas é o que ela menos tem para dar nesta manhã sobre o comportamento do garoto. como explicar e relacionar a destreza para levantar da cama e se arrumar prontamente, num segundo, para ir à escola, tratando de tomar banho, de escovar os dentes, de pentear os cabelos, de se vestir, de arrumar os materiais escolares e de tomar café, tudo com uma tranqüilidade oriental, ao joão?, não. isso não era o forte daquele garoto. talvez ele tenha chegado a madureza de seus 11 anos, avaliou o pai, com ar grave no rosto. bem, fato é que o garoto esta lá, esperando na porta do carro, mexendo os ombros, chutando o vento e balançando a cabeça. se maduro ou não, ele estava pronto mais um dia de aula, o que, cá pra nós, era um milagre, pois o moleque não era lá muito fã dos bancos escolares, vai ver estava se enrabichando pro lado de alguma garotinha na sala.

ao ver o beijo dos pais se adiantou para dentro do carro gritando um “tchau mãe” e se abancou na poltrona de trás abrindo a janela para sentir a brisa que batia em seu rosto e jogava seus cabelos para trás. parecia particularmente livre e feliz sentindo o vento e olhando as casas que compunham a paisagem móvel do caminho até à escola. as casas eram as mesmas, os postes eram os mesmos, os jardins eram os mesmos, até os cachorros que escapavam das bolinhas dos cuspis que voavam do carro eram os mesmos, mas a pintura em seus olhos era diferente era outra naquela manhã. o pai tentava contatos em vão, jota estava em outro mundo e conversava consigo mesmo sobre coisas que não escuto. a única coisa que consigo discernir são os movimentos da cabeça rumo a um e outro ombro. o que será que esse menino ouve? perguntava o pai a si e não encontrava resposta. enquanto isso o garoto continuava em seu mundo, seguindo seu caminho físico de toda manhã e ouvindo frases, creio, de incentivo e, talvez, até aplausos, vai saber?.

fila dupla, corre-corre e ele mal se despede do pai já corre para dentro da sala de aula. está só no local, ainda é cedo. aos poucos as cadeiras vão tomando vida e o silêncio é silenciado pelo burburinho que aumenta a cada instante até a chegada da professora.

Quando história quiser sair mais um pouquinho eu deixo,

sempre deixarei. Ela é que se esconde num sei onde.



Nenhum comentário: