domingo, março 16

a autobiografia do eric clapton morreu. depois de lida e (re)lida, como sempre faço – o que não é recomendável – o livro se esgotou e vai para o início da fila dos fragmentos sublimados. olhando para trás, talvez esse seja o que mais vai contribuir para a envergadura da madeira da estante, sim, pois os meus livros têm o terrível vício de carregar consigo não apenas a história do autor. eles acabam se tornando também depósitos das emoções que me assolam no período da leitura, assim, as minhas angústias - incrustadas às páginas amareladas dos livros - se misturam às histórias várias, construindo assim um enredo paralelo, misto de ficção e neuroses, dores e alegrias. por isso, é fácil encontrar entres as páginas de um manuel bandeira bilhetes de cinemas, cartas e cartões, bilhetes anotado nas beiradas das folhas, recados, números de telefones e frases anotados em guardanapos ou outro papel e outros tipos de fragmentos da minha vida. essa mania de me misturar aos contos pode até ser uma tentativa de fuga – vã – para um universo outro, paralelo a isso tudo aqui. mas, por favor, meus caros, não me venham apontar o dedo e apressarem em dizer que isso nada mais é do que falta de coragem para encarar as realidades da vida. não o é. é apenas o desejo de ampliar as possibilidades. sei que nem sempre isso é possível. sim, admito. pois existem também os livros inacabados, aqueles dos quais eu não dei conta ou que não permitiram que eu chegasse muito perto. não me perguntem o porquê. estes parecem sorrir de nossa incapacidade de encará-los. é como que dissessem: "ainda sou um mistério para você. sou como seus fantasmas mais íntimos, você sabe que eu estou aí, mas não sabe como se ver livre de mim, você não me toca". coitados. eles nem imaginam que a questão não é ficar livrar deles, que o que mais assola é a vontade de e se desvelar. se misturar, ficção e realidade, para que uma alivie o peso da outra e, ao mesmo tempo, me mostre os caminhos para ir mais fundo no exercício diário de me encontrar.

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