sábado, janeiro 20

Notícias de última hora

Poucos minutos atrás...

“Seria muito ingênuo se acreditasse que sou melhor que alguém. Seria, se achasse que há um melhor. Esta homenagem que recebo aqui, nesta noite, com estas mãos,

(ele ergue as mãos espalmadas, de dedos alongados, finos, todos retos, e repete com a voz de trovão.)

com estas mãos negras, não é minha. É de todos os atores desta nova geração do cinema brasileiro. Aliás. Quem merece essa homenagem, quem realmente merece essa homenagem é o público, que voltou a curtir o cinema brasileiro”.

(silêncio.)

Era Lazaro Ramos. Sim, aquele que encarnou o anti-herói Foguinho da última trama global, Cobras e Largatos, de aparições dramáticas nos domingões do Faustão da vida, e de interpretações únicas em filmes como Madame Satã, de Karin Aïnouz, O Homem do Ano, de José Henrique Fonseca e Carandiru, de Hector Babenco, e de tantos outros.
Essa jovem realidade do cinema nacional acabou de ser homenageado na abertura do 10º Mostra de Cinema de Tiradentes e hipnotizou a todos com sua simplicidade, simpatia e inteligência.
Em tempo: quem também recebeu a homenagem foi Matheus Naschtergaele. Figura fácil na cidade (que escolheu para viver). Durante as tardes dos finais de semana em que não filma ou é filmado (aliás, alegres tardes de cachaça da boa, cantigas com as crianças, risadas e zombarias, na praça central, ali, poucos minutos depois de sua casa, que fica perto da Matriz de Santo Antônio. Valha-me Deus!). Adiantemos a prosa. Matheus está gravando seu primeiro longa na Amazônia – esse nome me faz do coração tum tum tum - e coube a Lazaro representá-lo na solenidade de abertura do Festival. E assim Ramos o fez.
A propósito, o Cine Tenda, no largo da Rodoviária de Tiradentes/MG, calou-se ao som das palavras de Lazaro. Mas creio que pouco se entendeu o que se ouviu daquele jovem ator negro, Baiano (com B, mesmo!), feito nas periferias desse país – pois, no Brasil, não há como ser de uma periferia apenas. Periferia é substantivo plural em seu singular bruto.) e dono de um talento impar, digno dos grandes atores negros que esse país já viu. O público
estava muito preocupado
em tirar fotos e sorrisos do astro Global casado com a mocinha Global. Pena.
Poucos foram para ouvir as coisas que o artista nero tinha a falar.
Pouco o artista negro falou.
Mas falou.

Nenhum comentário: