quinta-feira, março 1

da ausência

O perene rio de verbo secou.
Num quarto branco de paredes sufocantes
Devaneio de amor plantou
E da colheita que encheu almas,
Como da flor do campo de cores cortantes,
Só o perfume da noite esbranquiçada pelas estrelas sobrou.

Do encher que se esvai, não queria mais.
- Para quê? O céu continua azul.
A imensa massa de firmamento
Só não é tanta de sentimento
De tanto ser transbordou
E nem acalanto torpe brotou

Na embriagues do doce momento
Tinha se despido do tanto que é.
Do que sobrou fez-se mais um vagante.
Desde então, se alimenta de lágrimas
Das outras que nascem sem afluentes e caem eternamente
Em rodopios, no vácuo de tudo o que nunca existiu.

Vagar pelo mundo, por acolá, era o que fazia.
Trombando, empurrando pedras e flores,
Arrumou modo de enfrentar dores.
Parava aqui, tomava cores, logo ali, risos e amores.
E assim,
do vazio que trazia
cimento para os cavos da vida fez.

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