terça-feira, março 6

Só me convenci de que ela falava a verdade quando tentei praticar com Taiwo uma brincadeira que fazíamos desde muito novas, nem sei quando. Qualquer uma de nós podia fechar os olhos e pensar um pensamento, qualquer um, e deixá-lo pela metade para que ele fosse completado pela outra. Ficávamos horas neste jogo silencioso, como se tivéssemos o poder de entrar no pensamento da outra e saber para onde ele estava indo. Eu queria saber o que ela pensava sobre a vida que levaríamos no estrangeiro, se seriamos presentes ou carneiros, mas não tive resposta. Senti que a ela já não estava mais didentro de mim, como se ela tivesse fechados os olhos naquelas horas em que, olhando por sobre os olhos de nossa mãe, que dançava, eu conseguia me ver dentro dos olhos dela. Eu tentava sair de mim e não encontrava mais onde ir, tentava encontrá-la e não conseguia. Ela já estava fora do meu alcance.
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Entendi que era hora de nos despedirmos
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Me disseram para que eu não ficasse triste, pois ela estava alegre por partir para encontrar com pessoas que gostavam dela... Eu a apertei com mais força para que a alma dela ficasse comigo...

defeito de cor - Ana Maria Gonçalves (trecho)

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